Agosto de 1981, periferia de São Paulo.
O guitarrista Antônio Carlos Calegari, o baterista Marcelino Gonzales e o baixista Clemente convidam Maurício para assumir os vocais de um novo projeto punk.
Nascia a banda Inocentes.
Inspirados por Buzzcocks, Vibrators, Generation X, New York Dolls, The Saints e Ramones - e batizados pela obra de John Cooper Clarke, "Innocents", os quatro rapazes sabiam exatamente do que se tratava todo aquele burburinho em torno das bandas e do rock. Em seu manifesto escrito para a revista “Galery Around”, Clemente definiu seu intento:
“Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer”.
Em 83 a Inocentes invadiu o Rio de Janeiro para se apresentar no Circo Voador. No mesmo ano entraram em estúdio para registrar o LP “Miséria e Fome”. Das 13 faixas 10 foram censuradas e o LP virou EP. Descontentes com os rumos da cena punk brasileira - violenta e desorganizada -, em pleno palco do lendário Napalm, Clemente decreta o fim da Inocentes e rompe com o movimento. Com Tonhão, na bateria, André Parlato, no baixo, Ronaldo dos Passos, na guitarra, e Clemente, nos vocais e guitarra, a banda retorna em 84 mais próxima do Pós-Punk e da New Wave, integrando a cena conhecida por Rock Paulista. Em 86 assinam com a Warner, lançam o clássico “Pânico em SP” e são agraciados com o título de "traidores do movimento". Tarde demais. O fim dos anos 80 e o início dos anos 90 foram marcados por uma confusa busca de identidade, pressões e o eterno dilema mainstream x underground. Somente em 94 as entranhas da banda novamente foram expostas com a volta à sonoridade e enregia pulsante dos primeiros registros. Nem as dificuldades naturais de se fazer rock de verdade, nem as mudanças na formação impediram que a banda retomasse seu lugar de destaque no Punk nacional. Seguiram-se apresentações ao lado de Ramones, Sex Pistols e Bad Religion - sempre com Clemente à frente, como símbolo. Após 31 anos de estrada é impossível não reconhecer a combinação de talento, convicção e coragem traduzida em poucos acordes e em letras que foram da ingênua frustração juvenil à mais profunda reflexão filosófica em uma das mais valiosas discografias do rock brasileiro.
Obrigado, Clemente.
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