segunda-feira, 9 de junho de 2008

[Entrevista] - Lee Siegel: “A web é melhor para os idiotas”

Antes de tudo, eu queria me desculpar aos visitantes e aos companheiros de equipe pela minha ausência neste blog. Apesar do tempo de existência, essa é a minha primeira postagem. Sempre entro aqui e leio textos interessantíssimos, tudo muito bem elaborado, assuntos sempre relevantes, em áreas diversas. Talvez esse seja o motivo de minha ausência: eu fico tão abismado, no bom sentido é claro, com as postagens alheias que acabo nunca postando nada aqui, sempre achando que o que eu tenho a dizer não é tão interessante, ou pelo menos, pode melhorar. E ai acabo por não postar nada....

Mas agora navegando pelas notícias do dia em deparei com uma entrevista que, ao meu ver, trata de um assunto que interessa a muitos aqui: a Internet.

Apesar do entrevistado ser confuso em seus atos, acho que a discussão do tema na entrevista é interessante o suficiente para ser postado aqui. Eu digo que o entrevistado é confuso pois, na minha opinião, ele ataca uma forma de comportamento (narcisismo) a qual ele pertence... irônico, não?

Bom, leiam a entrevista e julguem vocês mesmos.

"A promessa libertária da rede não se realizou. Para o crítico nova-iorquino, a anarquia tomou conta dela.

Peter Moon

Em setembro de 2006, a revista The New Republic acabou com o blog de Lee Siegel, um de seus mais célebres articulistas. O motivo: ele havia usado um pseudônimo para postar comentários em que atacava seus críticos e, ao mesmo tempo, elogiava a si próprio como “corajoso, brilhante e mais sábio” que seus detratores. “Após uma investigação, determinou-se que os comentários do usuário ‘sprezzatura’ (desprezo, em italiano) , defendendo os artigos e o blog de Lee Siegel, foram produzidos com sua participação. Nós nos arrependemos de ter enganado os leitores. Lee Siegel não vai mais publicar seu blog e foi suspenso de escrever na revista”, afirmou a New Republic. Em entrevista ao The New York Times, Siegel, de 51 anos, disse que tudo “não havia passado de uma brincadeira”. Siegel voltou a escrever na New Republic em abril de 2007. E contra-atacou em 2008, com Against the Machine: Being Human in the Age of the Electronic Mob (Contra a Máquina: Sendo Humano na Era da Ralé Eletrônica, editora Spiegel & Grau), livro no qual faz uma crítica devastadora da internet e da cultura da web.


Lee Siegel

QUEM É
Ensaísta e crítico cultural.

ONDE ESCREVE
Los Angeles Times, New Yorker, Slate, The Atlantic Monthly, The Nation, The New Republic, The New York Review of Books, The New York Times

O QUE PUBLICOU
Love in a Dead Language (2000), Who Wrote the Book of Love? (2005), Falling upwards (2006), Not Remotely Controlled (2007), Against the Machine (2008)





ÉPOCA – Por que escreveu o livro?

Lee Siegel – Em 2006, eu assinava um blog na New Republic quando uma seção da revista começou a publicar comentários anônimos, tais como “Siegel entrou no santuário de muitas pessoas, mijou nas urnas e pôs seu pênis no altar”, “Siegel é um retardado mongolóide” e “Siegel quer f... uma criança”. Acusaram-me de pedófilo! O pior é que tudo o que cai na web fica na web para sempre! Indignado, pedi aos editores para retirar aqueles comentários. Ninguém me escutou. Resolvi usar um pseudônimo para combater meus críticos. Com a suspensão do blog, decidi escrever a crítica à internet que desejava publicar havia anos.

ÉPOCA – Algo mudou de lá para cá?

Siegel – Não. Em abril, dei uma palestra no Google contando toda a história. Dez dias depois, um blogueiro anônimo voltou a s me chamar de pedófilo. Isso precisa parar. Francamente, apesar de ser jornalista e acreditar na liberdade de expressão, sou a favor de ações legais para acabar com essa forma de insulto anônimo.

ÉPOCA – O que deve mudar na rede?

Siegel – Ela precisa ser menos comercial. Os sites devem vigiar e proteger seus usuários contra abusos de terceiros, que fazem uso do anonimato para postar mensagens ofensivas. A web precisa mudar, criar um tipo diferente de cultura, no qual as pessoas não colecionem amigos como se fossem objetos. Precisa ser um lugar mais humano, que crie mais sentido na vida das pessoas.

ÉPOCA – Após 15 anos de popularização da internet, quais são seus prós e contras?

Siegel – No campo dos prós, eu salientaria as pessoas talentosas que não estão nos meios de comunicação. Elas agora têm voz e um meio para transmiti-la. Conseguem contornar as grandes vias de expressão como as redes de TV, as editoras e as gravadoras. Isso é muito bom. Do lado dos contras, a rede encoraja as pessoas a dizer o que lhes vem à cabeça, encoraja as mais baixa formas de expressão, como a crueldade, a banalidade e a mentira. Ela encoraja a autopromoção. A internet está acelerando a “comoditização” da vida privada, tornando a vida das pessoas um objeto de consumo.

ÉPOCA – A web realizou sua promessa libertária original?

Siegel – Não. Existem tantas vozes ressoando ao mesmo tempo. Não há liberdade, o que existe é anarquia. As vozes mais poderosas, sonoras e agressivas sufocam as mais sensíveis, razoáveis e sensatas. Não consigo imaginar um romance como Os Dublinenses, de James Joyce, obtendo sucesso na internet. Ou Kafka, ou Rimbaud, ou qualquer artista introspectivo e cheio de personalidade. A grande verdade é que a internet é melhor para os provocadores e para os idiotas, infelizmente.

ÉPOCA – Se a promessa libertária não se realizou, então o mercado dominou a web?

Siegel – Claro. O admirável mundo novo da internet, que seria uma alternativa para a mídia convencional, tornou-se uma nova forma de anarquia. Hoje, temos grupos como o Google, a Microsoft e o Yahoo!, ou Rupert Murdoch, o dono da News Corp., que comprou o MySpace. Ao comprar todos esses blogs e redes sociais, Murdoch e o Google estão, literalmente, comprando a vida empacotada das pessoas. Eles têm acesso a nossos pensamentos íntimos, que repassam para marqueteiros.


“Os blogs são como o espelho de Narciso. Na tela do pc,
as pessoas vêem o reflexo da própria perdição”


ÉPOCA – O senhor é contra o Google?

Siegel – Ele é assustador. O negócio do Google é comprar a alma das pessoas para depois vendê-la. O Google criou e domina a cultura dos sites de busca. Ele controla a relação entre o indivíduo, as empresas e o mercado. Seu negócio é virar as pessoas do avesso, expondo seus desejos mais íntimos para o mercado explorá-los e lucrar com eles. É terrível. Se eu fosse um neomarxista, e talvez o seja, diria que estão usando os mecanismos da democracia para criar uma forma autoritária de cultura, dominada e ditada pelas grandes empresas.

ÉPOCA – Os jovens trocaram os livros pela web. Isso é ruim?

Siegel – Em uma sociedade de massas existe um grande número de pessoas que parecem ter uma boa formação educacional, mas na verdade não têm. Há muita gente com diplomas universitários ou mesmo títulos mais impressionantes que não é mais culta que pessoas que não tinham diploma há cem anos. Não é surpresa que os jovens não leiam livros. A internet facilita o abandono da cultura impressa e torna mais fácil fazer da distração uma nova forma de disciplina. A internet é uma criação da cultura do entretenimento. Ela força a marginalização da cultura impressa, da reflexão e dos espaços de contemplação passiva de nossa vida.

ÉPOCA – O senhor alerta para o surgimento de uma sociedade isolada pelos computadores...

Siegel – Em relação ao efeito isolante da computação, quero dizer que, nos últimos 30 ou 40 anos, os americanos vêm progressivamente mergulhando num grande culto narcisista. Quando se chega ao ponto em que o indivíduo é elevado acima da sociedade, satisfazer as necessidades individuais torna-se mais importante que tentar criar relações com o próximo. A internet é o primeiro meio anti-social criado para o indivíduo anti-social. Ele está sozinho numa sala, na frente do computador, fazendo tudo o que antes requeria encontrar ou falar com pessoas, como fazer compras, reservar uma mesa no restaurante, encontrar uma namorada, se relacionar com amigos ou até fazer sexo. Pela primeira vez, pode-se obter aconselhamento médico sem consulta! É uma revolução nas relações sociais.

ÉPOCA – No livro, o senhor usa o termo Homo interneticus. Quem é ele?

Siegel – Usei esse termo para definir um novo tipo de personalidade, de alguém que não tem necessidade de outras pessoas. Creio que todos nos tornamos um pouco assim porque estamos ficando isolados devido a nossas engenhosas tecnologias de isolamento. Acho que estamos nos tornando mais impacientes uns com os outros e menos tolerantes com problemas de relacionamento com outras pessoas. Um reflexo disso é o empobrecimento da ficção e da dramaturgia nos Estados Unidos. Há cada vez menos gente que saiba como escrever sobre a vida com outras pessoas.

ÉPOCA – A China tem mais de 73 milhões de blogs. Quem os lê?

Siegel – Quem lê essas coisas? Ninguém. Pode-se argumentar que os blogs são uma forma saudável de expressão para quem não tem outro lugar para exteriorizar seus sentimentos a não ser esse vazio eletrônico. Por outro lado, essa tecnologia faz com que as pessoas se aprisionem em fortalezas construídas com suas próprias palavras, tornando-se narcisistas. A tela de computador é o espelho de Narciso, onde as pessoas vêem o reflexo da própria perdição.

ÉPOCA – Se tivesse o poder de mudar uma única coisa na web, o que seria?

Siegel – Proibiria as pessoas de usar pseudônimos. Eu as obrigaria a escrever o próprio nome e a sustentar suas afirmações."


Fonte

Reflitam e comentem, se quiserem.

6 comentários:

Ruptured disse...

Seja muito bem vindo à equipe daqui também Hammet!

Agora somos 5 mas, como diria o Joe, se alguém perguntar, diga que somos UM! HAHA

Coincidência ou não eu estava discutindo esse assunto hoje de manhã. Ainda vou formular uma opinião útil (ou pelo menos tentar).

Só por chatisse, eu digo que o termo que está se aplicando à internet não é Anarquia, muiiito longe disso, é tirania comercial mesmo.

Por Anarquia, entende-se que todos sabem qual o seu devido lugar, o que não vem acontecendo com a internet como ele colocou.

Joe "UNABOMBER" Barbara disse...

O menino Hammet ataca finalmente!
Muito boas as colocações de Siegel.Eu passei sem P.C.desde 99 e só eu e Deus sabe como é ficar por dentro do mundo tendo como norte Globo e afins.Os jornais "A Folha de S.Paulo" e "O Estado de S. Paulo" que foram marcos na mídia nacional hoje são tão imparciais quanto mães de ladrão.O rádio morreu como meio de cultura e informação.Então a internet ,somado a um filtro próprio chamado bom senso são vitais para o upgrade diário.Certa feita,baixei "O Processo" de Kafka e descobri que (tenho certeza)o fim dos livros esta mais longe do que se pensa.Não me imagino ler 700 páginas de "Os Irmãos Karamazovi" de Dostoievski sentado numa única posição.Banheiro,cigarro,café,andar,deitar de lado,enfim um sem número de atos e coisas que sem eles eu jamais teria gosto pela leitura(duvido que um laptop dure muito enquanto se lê no banheiro durante o banho da patrôa,até porque o livro eu posso facilmente colocar de lado quando me junto a ela).
Enfim,sem internet,eu nem teria camaradas virtuais como Ruptured,BlackHammet e Ganjacore(sem puxa-saquismos)pois em minha misantropia pós-alcoolica eu teria que continuar a trocar idéias com meus cães e gatas!!!!

Ruptured disse...

Qual o problema em trocar idéias com os cães? o.O

Joe "UNABOMBER" Barbara disse...

Nenhum!Até o momento em que você começa a ouvir respostas deles!
Ai é hora de procurar um analista ou baixar Avenger no Brabera!!!!!

Ruptured disse...

Então esqueça o analista e baixe o Avenger! E se seu cão disser:

- Que banda do caralho Joe!

Você continua ignorando o analista e diz:

- Tem razão camarada!

Joe "UNABOMBER" Barbara disse...

HUAHAUHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHUAHUAHUA!!!!!!(*)








*Tradução do Russo:"Boa,camarada!"