domingo, 29 de junho de 2008
Ruminar é preciso..
Mês atípico esse junho de 2008.
Primeiro o convite para compartilhar música e agora, para compartilhar idéias.
Antes de tudo quero agradecer pelo convite para participar com vocês desse(s) espaço(s). Honestamente acredito que um completa o outro ( brabera e talo da brabera) de uma forma a se tornar natural, sem os pesos do "politicamente correto" ou do "intelectualmente falando".
Equilíbrio.
Esse deve ser o tom da humanidade nos dias atuais.
Recentemente li na revista "Caros Amigos" uma pequena nota que me chamou a atenção.
O colunista Milton Severiano, que assina a "Enfermaria" (uma coluna de notas rápidas sobre tudo o que dá em sua telha) escreveu assim:
"O filósofo que ensina a escrever
Quando meu pai, ao sair para o trabalho, me via ferrado num livro e, ao voltar, me encontrava ainda ferrado no livro, dizia: "Meu filho, você precisa ruminar. E precisa pôr pra fora também. Se não, engruvinha por dentro. (...) acabo de ler "A Arte de Escrever", de Arthur Schopenhauer (1788-1860), da L&PM Pocket. Divertido à beça. Como é que um nordestino das Alagoas, semi-alfabetizado, dizia o que um alemão ilustrado havia escrito cem anos antes? Na página 128, Shopenhauer escreve que, quando se lê o tempo todo, sem parar, "não se chega à ruminação". Ele condena, não a leitura, mas o excesso. Quem lê as coisas nos livros é um erudito, mas "os promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do mundo. A imposição constante do pensamento alheio tira a elasticidade do espírito, como a mola perde a sua pela pressão constante de outro corpo - a metáfora é de Shopenhauer, que de metáforas faz uso a cada passo, e elogia quem sabe criá-las: "A formulação de comparações surpreendentes e ao mesmo tempo apropriadas dá mostras de um entendimento profundo.""
(transcrito de Caros Amigos, ano XII, nº135, junho de 2008, pág.10)
O que quero dizer com isso?
Que ler (ou ouvir música, ou comentar, ou assistir, ou navegar, ou conversar, ou fazer qualquer outra coisa) em excesso faz esse ato perder seu valor.
Ruminar é parar, pensar, compreender e assimilar para poder concordar ou discordar.
Leia, ouça música, assita a filmes, vá ao teatro, pratique esporte, relacione-se, pense, mas nunca em excesso, pois é o "ruminar" que nos acrescenta.
No mais, torno a agradecer pelos convites,
recomendo cada referência citada acima
(inclusive um blog muito bom - http://tragodefilosofia.blogspot.com/ )
e deixo um vídeo no mínimo curioso.
Até mais.
domingo, 22 de junho de 2008
É (infelizmente) tudo verdade!
Corrosivo e ácida critica pormenorizada da sociedade, tão atual hoje quanto em 89.
A narração de Paulo José é o ponto alto somado a inteligência do roteiro de Jorge Furtado que se move em velocidade rápida sendo seguido milimétricamente por uma sequência virtiginosa de imagens e idéias que formam a opinião desse curta.
obs.:A imagem não tá lá essas coisas.mas é no áudio que está a alma do filme.Se alguém encontrar em imagem mais nítida ,por favor ,não se incomodem em alterar,pois esse curta é de utilidade intelectual pública!
http://video.google.com/videoplay?docid=-142253527725422854&q=&hl=pt-BR
Ilha das Flores
Gênero Documentário, Experimental
Diretor Jorge Furtado
Elenco Ciça Reckziegel
Ano 1989
Duração 13 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Ser diferente?
Maria ,essa e por você!
Keep Rocking!!!
Keep the Resistence!!!
Bullyng : O Outro Lado da Escola
É comum encontrar entre os adultos uma quantidade considerável que tráz consigo as marcas dos traumas que adquiriram nos bancos escolares. São seqüelas que se evidenciam pelos prejuízos em aspectos essenciais à realização na vida, como dificuldades de lidar com perdas, relações afetivas, familiares e sociais, ou no desempenho profissional. Essas pessoas foram submetidas às diversas formas de maus-tratos psicológicos, verbais, físicos, morais, sexuais e materiais, através de zoações, apelidos pejorativos, difamações, ameaças, perseguições, exclusões. Brincadeiras próprias da idade? Não. Esses atos agressivos, intencionais e repetitivos, que ocorrem sem motivação evidente, em desigualdade de poder, caracterizam o bullying escolar.
O bullying tem sido ao longo do tempo, motivo de traumas e sofrimentos para muitos, sendo ignorado pela maioria das pessoas, por acreditar tratar-se de "brincadeiras próprias da idade" ou ser necessário ao amadurecimento do indivíduo, sem, contudo, considerar os danos causados aos envolvidos.
Os estudos sobre o bullying escolar tiveram início na Suécia, na década de 70 e na Noruega, na década de 80. Aos poucos, vem se intensificando nas escolas dos mais diversos países, sendo possível quantificá-lo em índices que variam de 5% a 35% de envolvimento. No Brasil, os estudos são recentes, motivo pelo qual a maioria dos brasileiros desconhece o tema, sua gravidade e abrangência. Pesquisas realizadas na região de São José do Rio Preto, interior paulista, (FANTE, 2000/03) e no município do Rio de Janeiro, (ABRAPIA, 2002), com o intuito de reconhecer a incidência bullying, revelaram que, em média, 45% dos estudantes de escolas públicas e privadas, estão envolvidos no fenômeno. Estudos desenvolvidos pelo Instituto SM para a Educação, em cinco países (Espanha, Argentina, México, Chile, Brasil), evidenciaram que o Brasil se tornou campeão em bullying.
Sem termo equivalente na língua portuguesa, que expresse sua abrangência e formas de ataques, o tema desperta crescente interesse e preocupação entre os pais e profissionais das áreas de educação, saúde e segurança pública, devido aos prejuízos emocionais causados e por seu poder propagador capaz de envolver crianças nos primeiros anos de escolaridade.
O comportamento bullying pode ser identificado em qualquer faixa etária e nível de escolaridade. Entre três e quatro anos, podemos perceber tanto o comportamento abusivo, manipulador, dominador, quanto o passivo, submisso e indefeso. Porém, a maior incidência está entre os alunos de 3ª a 8ª séries, período em que, progressivamente, os papéis dos protagonistas se definem com maior clareza.
Estudos demonstraram que a média de idade de maior incidência entre os agressores, situa-se na casa dos 13 a 14 anos, enquanto que as vítimas possuem em média, 11 anos. Fato que vem a comprovar que os papéis dos protagonistas e as formas de maus-tratos empregadas se intensificam, conforme aumenta o grau de escolaridade. Entre os adolescentes, uma prática que se torna comum, a cada dia, são os ataques virtuais, denominado de cyberbullying. É caracterizado pelo uso de ferramentas das modernas tecnologias de comunicação e de informação, principalmente através de celulares e da internet. Fofocas, difamações, fotografias montadas e divulgadas em sites e no orkut, seguidas de comentários racistas e sexistas, e-mails ameaçadores, uma verdadeira rede de intrigas, que envolve alunos e professores.
Geralmente, os ataques são produzidos por um grupo de agressores, reduzindo as possibilidades de defesa das vítimas. As estratégias de ataques, normalmente, são ardilosas e sutis, expondo as vítimas ao medo, à humilhação e ao constrangimento público. Os agressores se valem de sua força física ou psicológica, além da sua popularidade para dominar, subjugar e colocar sob pressão, o "bode expiatório". Entretanto, torna-se evidente entre eles a insegurança, a necessidade de chamar a atenção para si, de pertencer a um grupo, de dominar, associado à inabilidade de expressar seus sentimentos e emoções. Por isso, a escolha das vítimas, privilegia aquelas que não dispõe de habilidades de defesa.
Com o tempo, as vítimas se sentem solitárias, incompreendidas e excluídas de um contexto que prima pela inclusão de todos. As conseqüências do bullying incidem no processo de socialização e de aprendizagem, bem como na saúde física e emocional, especialmente das vítimas, que se isolam dos demais, carregando consigo uma série de sentimentos negativos que comprometem a estruturação da personalidade e da auto-estima, além da incerteza de estarem em um ambiente educativo seguro, onde possam se desenvolver plenamente. Em casos extremos, algumas vítimas executam seus planos de vingança, seguidos de suicídio.
Nos Estados Unidos, pelo menos 37 tiroteios ocorridos em escolas foram atribuídos ao bullying. O massacre de Columbine é um exemplo de como a vítima pode se transformar em agressor. Na pacata cidade de Taiuva (SP), após anos de ridicularizações, um jovem entra armado na escola, atira contra 50 estudantes e dá cabo à existência. Em Remanso (BA), um adolescente mata seu agressor principal, um garoto de 13 anos e a secretária do curso de informática.. Em Petrolina (PE), uma adolescente e seu colega asfixiam uma garota de 13 anos, por ser alvo de apelidos pejorativos.
O bullying é um fenômeno psicossocial expansivo, por isso considerado epidêmico, comprometedor do pleno desenvolvimento do indivíduo, por suas conseqüências psicológicas, emocionais, sociais e cognitivas, que se estendem para além do período acadêmico.
Dentre as causas desse tipo de comportamento podemos citar os modelos educativos introjetados na primeira infância. O tipo de experiência vivenciada pela criança no ambiente familiar, poderá predispô-la a tornar-se uma protagonista do fenômeno. Para o seu pleno desenvolvimento a criança necessita sentir-se amada, valorizada, aceita, incentivada à auto-expressão e ao diálogo, principalmente na adolescência, porém a noção de limites precisa ser estabelecida com firmeza e com coerência.
No entanto, quando no ambiente familiar há o predomínio de superproteção, modelo que inibe o desenvolvimento da capacidade de autonomia, de tomada de decisões, de exploração do ambiente e de defesa; ou o perfeccionismo, com alto nível de exigências e cobranças, mais do que elogios; ou a ambivalência, onde constantemente ocorre oscilação do humor, gerando muita insegurança pessoal; ou autoritarismo, com práticas educativas que se valem de agressões verbais, morais, psicológicas ou físicas; esses ingredientes psíquicos isolados ou somados, favorecem o envolvimento da criança em comportamentos bullying logo no início de sua experiência de socialização educacional.
São cinco os papéis que caracterizam este fenômeno: vítimas típicas, vítimas provocadoras, vítimas agressoras, agressores e espectadores. Algumas constatações entre os envolvidos: é comum que quem sofreu alguma das formas de ataque reproduza os maus-tratos sofridos; os tipos de conseqüências são abrangentes, de acordo com as características de cada indivíduo e das características psicodinâmicas de sua família; as vítimas encontram dificuldade de buscar ajuda e quando buscam sentem dificuldade de serem compreendidas, além do temor em relação à resposta dos pais, ou de que a sua denúncia agrave ainda mais o seu problema.
Dessa forma, estamos diante de um grande desafio. As dimensões identificadas do problema, nos remetem a olharmos para a lacuna que se evidencia na convivência familiar e escolar, pois é notório entre os alunos a carência afetiva e a ausência de modelos humanistas que lhes sirvam de referencial. Por isso, é necessário que as instituições de ensino invistam em conscientizar seus profissionais, pais e alunos sobre a relevância desse tema e desenvolvam estratégias preventivas, em parcerias com os diversos segmentos sociais, visando educar para a paz. E que a prática da solidariedade, cooperação, tolerância, empatia, respeito às diferenças e compaixão caracterizem a atitude de amor das instituições de ensino e da família, em busca da construção da paz.
Cleo Fante . Graduada em História e Pedagogia. Pós-graduada em Didática do Ensino Superior. Doutoranda em Ciências da Educação. Pesquisadora pioneira no Brasil, sobre o Bullying Escolar. Autora do livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para paz (Verus Editora). Autora do programa antibullying "Educar para a Paz". Diretora Geral do Cemeobes (Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar). Conferencista.
Mais informações sobre o problema e sobre a autora,visite:
http://www.psicologia.org.br/internacional/pscl84.htm
quarta-feira, 18 de junho de 2008
segunda-feira, 16 de junho de 2008
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quinta-feira, 12 de junho de 2008
Boas e más razões para crer
A idéia inicial era ligar o texto para o blog da Shibboleth por causa do inconveniente tamanho final. Mas como por aqui ganha quem colocar os maiores textos, vou postar assim mesmo. O que, é claro, não impede que você visite a sua fonte original e confira outros textos de cunho Pseudo-Misantropo Filosóficos...ou algo assim. Grato novamente.
Nas palavras da própria Shibboleth:
''Well, venho por meio desta postar um texto que Richard Dawkins (L) escreveu para sua filha, no intuito de evitar que ela fosse vítima de qualquer forma de doutrinação infantil (uma das responsáveis por grande parte dos males que há no mundo). Ele diz que gostaria de deixá-la livre para tomar suas próprias decisões quando chegasse à idade de fazê-lo e que se sentia desejoso de ensiná-la a pensar sem, no entanto, dizer a ela o que pensar.
Como muitas pessoas, digamos, pouco racionais, refletem com uma profundidade mais ou menos parecida com a de uma criança (isso se estivermos sendo otimistas), você pode usar esse texto pra tentar levar aquela sua tia crente para o bom caminho. Se não der certo, ao menos você poderá vê-la se contorcendo de raiva, o que é sempre divertido ^_^''
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''Querida Juliet,
Agora que você fez dez anos, quero lhe escrever sobre algo que é muito importante para mim. Você já se perguntou sobre como sabemos as coisas que sabemos? Como sabemos, por exemplo, que as estrelas, que parecem pequenos pontos no céu, são na verdade grandes bolas de fogo como o Sol e ficam muito longe? E como sabemos que a Terra é uma bola menor, girando ao redor de uma dessas estrelas, o Sol?
A resposta para essas perguntas é “provas”. Às vezes “prova” significa realmente ver (ou ouvir, ou sentir, cheirar...) que algo é verdade. Astronautas viajaram longe o suficiente da Terra para ver com seus próprios olhos que ela é redonda. Às vezes nossos olhos precisam de ajuda. A “estrela-d’alva” parece uma sutil cintilação no céu, mas com um telescópio você pode ver que ela é uma linda bola - o planeta que chamamos de Vênus. Uma coisa que você aprende diretamente vendo (ou ouvindo, ou cheirando...) é chamada de observação.
Freqüentemente, a prova não é só uma observação por si só, mas há sempre observações em sua base. Se aconteceu um assassinato, é comum ninguém (menos o assassino e a pessoa morta!) ter visto o que aconteceu. Mas os detetives juntam diversas observações que podem apontar na direção de um suspeito. Se as impressões digitais de uma pessoa coincidirem com as encontradas num punhal, isso é uma prova de que ela tocou nele. Isso não prova que ela cometeu o assassinato, mas pode ser uma informação útil, junto com outras provas. Às vezes um detetive consegue pensar sobre várias observações e então de repente perceber que todas se encaixam e fazem sentido se fulano de tal cometeu o crime.
Os cientistas - os especialistas em descobrir o que é verdade sobre o mundo e o universo - freqüentemente trabalham como detetives. Eles dão um palpite (chamado de hipótese) sobre o que talvez seja verdade. Depois dizem para si mesmos: “Se isso realmente for verdade, devemos observar tal coisa”. Isso é chamado de previsão. Por exemplo, se o mundo realmente for redondo, podemos prever que um viajante que caminhar continuamente numa mesma direção acabará no ponto de onde partiu. Quando um médico diz que você está com sarampo, ele não olhou para você e viu sarampo. A sua primeira observação lhe fornece a hipótese de que você talvez tenha sarampo. Então ele diz para si mesmo: se ela realmente está com sarampo, devo encontrar... E ele então consulta sua lista de previsões e testa-as usando seus olhos (você está com pintas?), mãos (sua testa está quente?) e ouvidos (seu peito está com um chiado?). Só então ele toma a decisão e diz: “Meu diagnóstico é que essa criança está com sarampo”. Às vezes, os médicos precisam fazer outros testes, como exames de sangue ou raio X, que ajudam seus olhos, mãos e ouvidos a fazer observações.
O modo como os cientistas usam provas para aprender sobre o mundo é muito mais engenhoso e complicado do que consigo dizer numa breve carta. Mas agora quero deixar de lado as provas, que são uma boa razão para crer em algo, e alerta-la sobre três más razões para acreditar em algo. Elas se chamam “tradição”, “autoridade” e “revelação”.
Primeiro, a tradição. Alguns meses atrás, fui à televisão para ter uma conversa com cerca de cinqüenta crianças. Essas crianças foram convidadas por terem sido criadas segundo diferentes religiões: algumas como cristãs, outras judias, mulçumanas, hindus ou sikhs. Um homem com um microfone ia de criança em criança, perguntando no que acreditavam. O que elas responderam mostra exatamente o que quero dizer com “tradição”. Suas crenças não tinham nenhuma relação com provas. Elas simplesmente papagaiavam as crenças de seus pais e avós que, por sua vez, também não eram baseadas em provas. Elas diziam coisas como: “Nós, hindus, acreditamos em tal e tal”; “Nós, muçulmanos, acreditamos nisso e naquilo”; “Nós, cristãos, acreditamos numa outra coisa”.
Como todas acreditavam em coisas diferentes, nem todas poderiam estar certas. O homem com o microfone parecia achar que isso não era um problema, e nem tentou fazê-las discutir suas diferenças entre si. Mas não é isso que quero enfatizar no momento. Eu simplesmente quero analisar de onde vieram as crenças. Vieram da tradição. Tradição significa crenças passadas do avô para o pai, deste para o filho, e assim por diante. Ou por meio de livros passados através das gerações ao longo dos séculos. Crenças populares freqüentemente começam de quase nada; talvez alguém simplesmente as invente, como as histórias sobre Thor e Zeus. Mas depois de terem sido transmitidas por alguns séculos, o simples fato de serem tão antigas as faz parecer especiais. As pessoas acreditam em coisas simplesmente porque outras pessoas acreditaram nessas mesmas coisas ao longo dos séculos. Isso é tradição.
O problema com a tradição é que, independentemente de há quanto tempo a história tenha sido inventada, ela continua exatamente tão verdadeira ou falsa quanto a história original. Se você inventar uma história que não seja verdadeira, transmiti-la através de vários séculos não vai torná-la verdadeira!
A maioria das pessoas na Inglaterra foi batizada pela Igreja anglicana, mas esse é apenas um entre muitos ramos da religião cristã. Há outras divisões, como a ortodoxa russa, a católica romana e as metodistas. Todas acreditam em coisas diferentes. A religião judaica e a mulçumana são um pouco diferentes; e há ainda diferentes tipos de judeus e mulçumanos. Pessoas que acreditam em coisas um pouco diferentes umas das outras vão à guerra por causa discordâncias. Então você talvez imagine que eles têm boas razões - provas - para acreditar naquilo que acreditam. Mas, na realidade, suas diferentes crenças são inteiramente decorrentes de tradições.
Vamos falar sobre uma tradição em particular. Católicos romanos acreditam que Maria, a mãe de Jesus, era tão especial que ela não morreu, mas acendeu ao Céu. Outras tradições cristãs discordam, e dizem que Maria morreu como qualquer pessoa. Outras religiões não falam muito nela e, de modo diferente dos católicos romanos, não a chamam de “Rainha do Céu”. A tradição segundo a qual o corpo e Maria foi levado ao Céu não é muito antiga. A Bíblia não diz nada sobre como ou quando ela nasceu; aliás, a pobre mulher mal é mencionada na Bíblia. A crença de que seu corpo foi levado ao Céu não foi inventada até cerca de seis séculos após a época de Jesus. No início, só foi inventada, da mesma forma que qualquer história, como “Branca de Neve”. Mas, no transcorrer dos séculos, ela se tornou uma tradição e as pessoas começaram a levá-la a sério simplesmente porque a história havia sido transmitida ao longo de tantas gerações. Quanto mais velha a tradição se tornava, mais as pessoas a levavam a sério. Ela foi por fim escrita como uma crença católica romana oficial muito recentemente, em 1950, quando eu tinha a idade que você tem hoje. Mas a história não era mais verdadeira em 1950 do que quando foi inventada, seiscentos anos após a morte de Maria.
Vou voltar à tradição no fim de minha carta, e olhá-la de outro modo. Mas antes preciso tratar das outras duas más razões para crer em alguma coisa: autoridade e revelação.
Autoridade enquanto razão para crer em algo significa acreditar pois alguém importante ordenou que você acreditasse. Na Igreja católica romana, o para é a pessoa mais importante, e as pessoas acreditam que ele deve estar certo só porque ele é o papa. Num dos ramos da religião muçulmana, as pessoas importantes são velhos barbados chamados de aiatolás. Muitos muçulmanos se dispõem a cometer assassinatos simplesmente porque aiatolás de um país distante deram essa ordem.
Quando digo que só em 1950 os católicos romanos foram finalmente informados que tinham que acreditar que o corpo de Maria havia subido para o Céu, quero dizer que em 1950 o papa disse que isso era verdade, e então tinha que ser verdade! É claro que algumas coisas que o papa disse ao longo de sua vida devem ser verdade e outras não. Não há nenhuma boa razão para você acreditar em tudo que ele diz mais do que você haveria de acreditar nas coisas que muitas outras pessoas dizem, só porque ele é o papa. O papa atual ordenou às pessoas que não controlasse o número de filhos que vão ter. se sua autoridade for seguida com a obediência que ele deseja, os resultados poderão ser uma terrível escassez de alimentos, doenças e guerras, causas por superpopulação.
É claro que, mesmo na ciência, às vezes nós mesmos não vemos as provas e temos de acreditar no que foi dito por outra pessoa. Eu não vi, com os meus próprios olhos, que a luz viaja à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo. Mas acredito em livros que me dizem qual a velocidade da luz. Isso parece “autoridade”. Mas na realidade é muito melhor que autoridade, porque as pessoas que escreveram o livro viram as provas, e qualquer um de nós pode examinar as provas com atenção no momento que quiser. Isso é muito confortante. Mas nem mesmo os padres afirmam que há provas para a história de que o corpo de Maria subiu para o Céu.
A terceira má razão para acreditar em algo é “revelação”. Se você tivesse perguntado ao papa, em 1950, como ele sabia que o corpo de Maria tinha subido ao Céu, ele provavelmente teria dito que isso lhe fora revelado. Ele se fechou num quarto e rezou., pedindo orientação. Sozinho, ele pensou e pensou, e na sua intimidade teve mais e mais certeza de suas idéias. Quando pessoas religiosas têm uma simples sensação de que algo deve ser verdade, mesmo que não haja provas de que o seja, eles chamam sua sensação de “revelação”. Não só os papas afirmam ter revelações. Isso também acontece com muitas pessoas religiosas. É uma de suas principais razões para acreditar naquilo que acreditam. Mas isso é bom ou ruim?
Suponha que eu lhe dissesse que seu cachorro está morto. Você provavelmente ficaria muito triste, e talvez dissesse: “Você tem certeza? Como você sabe? Como aconteceu?”. Suponha então que eu respondesse: “Na verdade, eu não sei se Pepe está morto. Eu não tenho provas. Só tenho uma sensação esquisita, bem dentro de mim, de que ele está morto”. Você ficaria muito zangada comigo por tê-la assustado, porque você sabe que uma “sensação” por si só não é uma boa razão para acreditar que um cachorro está morto. Você precisa de provas. Todos temos sensações e pressentimentos de tempos em tempos, e descobrimos que às vezes estavam certos, às vezes não. De qualquer forma, pessoas diferentes podem ter sensações opostas, então como decidir quem teve a intuição correta? O único jeito de ter certeza de que um cachorro está morto é vê-lo morto, ou ouvir que seu coração parou de bater, ou obter essa informação de uma pessoa que viu ou ouviu alguma prova de que ele está morto.
As pessoas às vezes dizem que devemos acreditar em sensações íntimas, senão você nunca teria certeza de coisas como “Minha esposa me ama”. Mas esse é um argumento ruim. Pode haver muitas provas de que alguém ama você. Durante todo o dia em que você está com alguém que a ama, você vê e ouve pequenas provas, e elas se somam. Não é somente ma sensação interior, como a sensação que os padres chamam de revelação. Há outras coisas para apoiar a intuição: olhares, um tom carinhoso de voz, pequenos favores e gentilezas; tudo isso serve de prova.
Certas pessoas têm forte sensação de que alguém as ama sem que isso esteja baseado em provas, e então é provável que estejam completamente enganadas. Há pessoas com uma forte intuição de que um astro do cinema está apaixonado por elas, mas na realidade o astro de cinema nem sequer as encontrou. Pessoas assim são doentes da cabeça. Sensações íntimas ou intuições precisam ser apoiadas por provas, senão você simplesmente não pode confiar nelas.
As intuições são valiosas na ciência também, mas só para lhe dar idéias que você então testa, procurando provas. Um cientista pode ter um “pressentimento” sobre uma idéia que ele “sente” estar correta. Por si só, isso não é uma boa razão para acreditar nela. Mas pode ser uma razão para passar algum tempo fazendo experimentos, ou à busca de provas. Cientistas usam a intuição o tempo todo para ter idéias. Mas elas não valem nada até que sejam apoiadas por provas.
Eu prometi que voltaria à tradição, para examiná-la de outro modo. Quero explicar o que a tradição é tão importante para nós. Todos os animais são construídos (pelo processo chamado de evolução) para sobreviver no local em que seus semelhantes vivem. Leões são construídos para sobre sobreviver nas planícies da África. O lagostim é construído para sobreviver na água doce, enquanto as lagosta são adaptadas para a vida na água salgada. As pessoas também são animais, e somos construído nos para viver bem no mundo cheio de... outras pessoas. A maioria de nós não caça para obter comida, como as lagostas ou os leões; nós a compramos de pessoas que, por sua vez, a compram de outras pessoas. Nossas entre " nadamos" num "mar de pessoas". Assim como um peixe precisa das brânquias para sobreviver na água, as pessoas precisam do cérebro que as torna capazes de se relacionarem umas com as outras. Assim como o mar está cheio de água salgada, o mar de pessoas está cheio de coisas difíceis de aprender. Como a linguagem.
Você fala inglês, mas sua amiga Ann-Kathrin fala alemão. Cada um de vocês falam a língua que lhes permiti "nadar" no seu "mar de pessoas". A linguagem é transmitida por tradição. Não há outra alternativa. Na Inglaterra, Pepe é um dog. Na Alemanha, ele é ein Hund. Nenhuma dessas palavras é mais correta ou verdadeira do que a outra. As duas foram transmitidas ao longo do tempo, só isso. Para serem boas em "nadar no seu mar de pessoas", as crianças têm que aprender a língua de seu país, e muitas outras coisas sobre se o seu povo; e só quer dizer que elas precisam absorver, como papel mata-borrão, uma enorme quantidade de informações sobre tradições (lembre que essas informações são aquelas passadas dos avós para pais e deste para filhos). O cérebro da criança tem que absorver informações sobre tradições. Não é de se esperar que a criança consiga separar a informação boa e útil, como as palavras de uma língua, das informações ruins e tolas como acreditar em bruxas, demônios e virgens imortais.
É uma pena - mas não deixa de ser assim - que, por serem sugadoras da informação sobre tradições, as crianças possam acreditar em qualquer coisa que os adultos lhes digam. Não importa se seja falso ou verdadeiro, certo ou errado. Muito do que os adultos dizem é verdadeiro e baseado em provas, ou pelo menos sensato. Mas se parte do que é dito é falso, tolo ou até malvado, não há nada para impedir as crianças de acreditarem naquilo também. E quando as crianças crescerem o que farão? Bom, é claro que contarão as histórias para a próxima geração de crianças. Então, uma vez que uma idéia se torna uma crença arraigada - mesmo que seja completamente falsa e nunca tenha havido uma razão para acreditar nela -, pode durar para sempre.
Será isso o que aconteceu com as religiões? A crença de que há um Deus ou deuses, crença no Céu, crença em que Maria nunca morreu, que Jesus nunca possuiu um pai humano, que as rezas são respondidas, que vinho se torna sangue - nenhuma dessas crenças é apoiada por boas provas. E no entanto milhões de pessoas acreditam nelas. Talvez isso ocorra porque elas foram levadas a acreditar nessas coisas quando eram tão jovens que aceitavam qualquer coisa.
Milhões de pessoas acreditam em coisas bem diferentes, porque diferentes coisas lhes foram ensinadas quando eram crianças. Coisas diferentes são ditas para crianças muçulmanas e cristãs, e ambas crescem totalmente convencidas de que estão certas e as outras erradas. Mesmo entre cristãos, católicos romanos acreditam em coisas diferentes dos anglicanos ou de pessoas como os shakers [adeptos da Igreja milênio] ou quacres, mórmons ou Holy Rolers, e todos estão plenamente convencidos de que estão certos e os outros errados. Acreditam em coisas diferentes exatamente pela mesma razão que você fala inglês e Ann-Kathrin fala alemão. Ambas as línguas são, em seu próprio país, a língua certa para se falar. Mas não pode ser verdade que religiões diferentes estão corretas em seus próprios países, pois religiões diferentes afirmam que coisas opostas são verdadeiras. Maria não pode estar viva na Irlanda do Sul (um país católico) e morta na Irlanda do Norte (que é protestante).
O que podemos fazer sobre tudo isso? Não é fácil para você fazer alguma coisa, porque você só tem dez anos. Mas você pode tentar o seguinte. Da próxima vez que alguém lhe disser algo que parecer importante, pense: “Será que isso é o tipo de coisa que as pessoas sabem por causa de provas? Ou será o tipo de coisa em que as pessoas acreditam só por causa de tradição, autoridade ou revelação?”. E, da próxima vez que alguém lhe disser que uma coisa é verdade, por que não perguntar: “Que tipo de prova há para isso?”. E, se ela não puder lhe dar uma boa resposta, eu espero que você pense com muito carinho antes de acreditar em qualquer palavra daquilo que foi dito.
De seu querido
Papai''
terça-feira, 10 de junho de 2008
Jax
A voz suave e aveludada que vos fala é de Jax! O mais novo desocupado do "Talo do Brabera"!
Não tem como me apresentar direito sem falar que foi eu quem pulou nu no show do Violator,se eu não falo isso as pessoas não costumam a saber quem sou eu. Ainda não tenho oque falar por aqui,mas vim mesmo me apresentar,falar que eu gosto de rock preto do cão e scat na hora do sexo,sou charmoso,tenho olhos azuis e alto,porte físico bem atlético e gosto de artes plásticas.
Tenho 17 aninhos e Vegan,infeliz/felizmente.
Vou deixar para comentários mais embasados pro próximo post,ou sei lá!(HAHAHA)
Agradeço pra aralho pro Ruptured-One por me convidar pra participar dessa mundiça! Muito foda,fiquei sem saber oque postar,mas agora já sei hahaha!
Valeu ai galera! Pretendo postar sempre algo bem ínutil!
Rush - Original Soundtrack by Eric Clapton (1992)
segunda-feira, 9 de junho de 2008
[Entrevista] - Lee Siegel: “A web é melhor para os idiotas”
Mas agora navegando pelas notícias do dia em deparei com uma entrevista que, ao meu ver, trata de um assunto que interessa a muitos aqui: a Internet.
Apesar do entrevistado ser confuso em seus atos, acho que a discussão do tema na entrevista é interessante o suficiente para ser postado aqui. Eu digo que o entrevistado é confuso pois, na minha opinião, ele ataca uma forma de comportamento (narcisismo) a qual ele pertence... irônico, não?
Bom, leiam a entrevista e julguem vocês mesmos.
"A promessa libertária da rede não se realizou. Para o crítico nova-iorquino, a anarquia tomou conta dela.
Em setembro de 2006, a revista The New Republic acabou com o blog de Lee Siegel, um de seus mais célebres articulistas. O motivo: ele havia usado um pseudônimo para postar comentários em que atacava seus críticos e, ao mesmo tempo, elogiava a si próprio como “corajoso, brilhante e mais sábio” que seus detratores. “Após uma investigação, determinou-se que os comentários do usuário ‘sprezzatura’ (desprezo, em italiano) , defendendo os artigos e o blog de Lee Siegel, foram produzidos com sua participação. Nós nos arrependemos de ter enganado os leitores. Lee Siegel não vai mais publicar seu blog e foi suspenso de escrever na revista”, afirmou a New Republic. Em entrevista ao The New York Times, Siegel, de 51 anos, disse que tudo “não havia passado de uma brincadeira”. Siegel voltou a escrever na New Republic em abril de 2007. E contra-atacou em 2008, com Against the Machine: Being Human in the Age of the Electronic Mob (Contra a Máquina: Sendo Humano na Era da Ralé Eletrônica, editora Spiegel & Grau), livro no qual faz uma crítica devastadora da internet e da cultura da web.
Lee Siegel
QUEM É
Ensaísta e crítico cultural.
ONDE ESCREVE
Los Angeles Times, New Yorker, Slate, The Atlantic Monthly, The Nation, The New Republic, The New York Review of Books, The New York Times
O QUE PUBLICOU
Love in a Dead Language (2000), Who Wrote the Book of Love? (2005), Falling upwards (2006), Not Remotely Controlled (2007), Against the Machine (2008)
ÉPOCA – Por que escreveu o livro?
Lee Siegel – Em 2006, eu assinava um blog na New Republic quando uma seção da revista começou a publicar comentários anônimos, tais como “Siegel entrou no santuário de muitas pessoas, mijou nas urnas e pôs seu pênis no altar”, “Siegel é um retardado mongolóide” e “Siegel quer f... uma criança”. Acusaram-me de pedófilo! O pior é que tudo o que cai na web fica na web para sempre! Indignado, pedi aos editores para retirar aqueles comentários. Ninguém me escutou. Resolvi usar um pseudônimo para combater meus críticos. Com a suspensão do blog, decidi escrever a crítica à internet que desejava publicar havia anos.
ÉPOCA – Algo mudou de lá para cá?
Siegel – Não. Em abril, dei uma palestra no Google contando toda a história. Dez dias depois, um blogueiro anônimo voltou a s me chamar de pedófilo. Isso precisa parar. Francamente, apesar de ser jornalista e acreditar na liberdade de expressão, sou a favor de ações legais para acabar com essa forma de insulto anônimo.
ÉPOCA – O que deve mudar na rede?
Siegel – Ela precisa ser menos comercial. Os sites devem vigiar e proteger seus usuários contra abusos de terceiros, que fazem uso do anonimato para postar mensagens ofensivas. A web precisa mudar, criar um tipo diferente de cultura, no qual as pessoas não colecionem amigos como se fossem objetos. Precisa ser um lugar mais humano, que crie mais sentido na vida das pessoas.
ÉPOCA – Após 15 anos de popularização da internet, quais são seus prós e contras?
Siegel – No campo dos prós, eu salientaria as pessoas talentosas que não estão nos meios de comunicação. Elas agora têm voz e um meio para transmiti-la. Conseguem contornar as grandes vias de expressão como as redes de TV, as editoras e as gravadoras. Isso é muito bom. Do lado dos contras, a rede encoraja as pessoas a dizer o que lhes vem à cabeça, encoraja as mais baixa formas de expressão, como a crueldade, a banalidade e a mentira. Ela encoraja a autopromoção. A internet está acelerando a “comoditização” da vida privada, tornando a vida das pessoas um objeto de consumo.
ÉPOCA – A web realizou sua promessa libertária original?
Siegel – Não. Existem tantas vozes ressoando ao mesmo tempo. Não há liberdade, o que existe é anarquia. As vozes mais poderosas, sonoras e agressivas sufocam as mais sensíveis, razoáveis e sensatas. Não consigo imaginar um romance como Os Dublinenses, de James Joyce, obtendo sucesso na internet. Ou Kafka, ou Rimbaud, ou qualquer artista introspectivo e cheio de personalidade. A grande verdade é que a internet é melhor para os provocadores e para os idiotas, infelizmente.
ÉPOCA – Se a promessa libertária não se realizou, então o mercado dominou a web?
Siegel – Claro. O admirável mundo novo da internet, que seria uma alternativa para a mídia convencional, tornou-se uma nova forma de anarquia. Hoje, temos grupos como o Google, a Microsoft e o Yahoo!, ou Rupert Murdoch, o dono da News Corp., que comprou o MySpace. Ao comprar todos esses blogs e redes sociais, Murdoch e o Google estão, literalmente, comprando a vida empacotada das pessoas. Eles têm acesso a nossos pensamentos íntimos, que repassam para marqueteiros.
as pessoas vêem o reflexo da própria perdição”
ÉPOCA – O senhor é contra o Google?
Siegel – Ele é assustador. O negócio do Google é comprar a alma das pessoas para depois vendê-la. O Google criou e domina a cultura dos sites de busca. Ele controla a relação entre o indivíduo, as empresas e o mercado. Seu negócio é virar as pessoas do avesso, expondo seus desejos mais íntimos para o mercado explorá-los e lucrar com eles. É terrível. Se eu fosse um neomarxista, e talvez o seja, diria que estão usando os mecanismos da democracia para criar uma forma autoritária de cultura, dominada e ditada pelas grandes empresas.
ÉPOCA – Os jovens trocaram os livros pela web. Isso é ruim?
Siegel – Em uma sociedade de massas existe um grande número de pessoas que parecem ter uma boa formação educacional, mas na verdade não têm. Há muita gente com diplomas universitários ou mesmo títulos mais impressionantes que não é mais culta que pessoas que não tinham diploma há cem anos. Não é surpresa que os jovens não leiam livros. A internet facilita o abandono da cultura impressa e torna mais fácil fazer da distração uma nova forma de disciplina. A internet é uma criação da cultura do entretenimento. Ela força a marginalização da cultura impressa, da reflexão e dos espaços de contemplação passiva de nossa vida.
ÉPOCA – O senhor alerta para o surgimento de uma sociedade isolada pelos computadores...
Siegel – Em relação ao efeito isolante da computação, quero dizer que, nos últimos 30 ou 40 anos, os americanos vêm progressivamente mergulhando num grande culto narcisista. Quando se chega ao ponto em que o indivíduo é elevado acima da sociedade, satisfazer as necessidades individuais torna-se mais importante que tentar criar relações com o próximo. A internet é o primeiro meio anti-social criado para o indivíduo anti-social. Ele está sozinho numa sala, na frente do computador, fazendo tudo o que antes requeria encontrar ou falar com pessoas, como fazer compras, reservar uma mesa no restaurante, encontrar uma namorada, se relacionar com amigos ou até fazer sexo. Pela primeira vez, pode-se obter aconselhamento médico sem consulta! É uma revolução nas relações sociais.
ÉPOCA – No livro, o senhor usa o termo Homo interneticus. Quem é ele?
Siegel – Usei esse termo para definir um novo tipo de personalidade, de alguém que não tem necessidade de outras pessoas. Creio que todos nos tornamos um pouco assim porque estamos ficando isolados devido a nossas engenhosas tecnologias de isolamento. Acho que estamos nos tornando mais impacientes uns com os outros e menos tolerantes com problemas de relacionamento com outras pessoas. Um reflexo disso é o empobrecimento da ficção e da dramaturgia nos Estados Unidos. Há cada vez menos gente que saiba como escrever sobre a vida com outras pessoas.
ÉPOCA – A China tem mais de 73 milhões de blogs. Quem os lê?
Siegel – Quem lê essas coisas? Ninguém. Pode-se argumentar que os blogs são uma forma saudável de expressão para quem não tem outro lugar para exteriorizar seus sentimentos a não ser esse vazio eletrônico. Por outro lado, essa tecnologia faz com que as pessoas se aprisionem em fortalezas construídas com suas próprias palavras, tornando-se narcisistas. A tela de computador é o espelho de Narciso, onde as pessoas vêem o reflexo da própria perdição.
ÉPOCA – Se tivesse o poder de mudar uma única coisa na web, o que seria?
Siegel – Proibiria as pessoas de usar pseudônimos. Eu as obrigaria a escrever o próprio nome e a sustentar suas afirmações."
Reflitam e comentem, se quiserem.
sábado, 7 de junho de 2008
Proposição 187
Sessão 1: Considerações e Declarações
O Povo da Califórnia considera e declara os termos a seguir:
1:. Que sofreram e estão sofrendo dificuldades econômicas causadas pela presença de elementos ilegais em seu estado
2:. Que sofreram e estão sofrendo danos pessoais causados por conduta criminosa de elementos ilegais em seu estado
3:. Que têm o direito de proteção de seu governo contra qualquer pessoa ou pessoas que entraram neste país ilegalmente.
É com esse curto e conciso fragmento da proposição que lhes apresento uma das mais evidentes demonstrações de ódio racial, que, surpreendentemente, tramitou em âmbito oficial em uma nação dita livre e democrática.
A Proposição 187 de 1994, tinha como principal objetivo diminuir radicalmente o número de imigrantes ilegais no estado da Califórnia, incentivando os já presentes a sair do país, e desencorajando novos emigrantes a tentar a sorte em uma terra que, mais do nunca, é hostil não apenas a sua presença, mas a sua raça como um todo.
Para isso, a emenda propunha que fosse negado a todos os ''ilegais'' qualquer tipo de acesso a serviços sociais, assistência hospitalar, educação pública e apoio de efetivos policiais. Em suma, transformando os pardos mexicanos (maioria esmagadora) em uma sub-raça destinada à total negligência estatal, que deveria submeter-se às novas condições de subserviência à raça branca dominante.
Proposta pelo deputado republicano Dick Mountjoy como a iniciativa de salvação do estado (Save Our State Initiative) foi logo abraçada pelo então governador Pete Wilson, que a transformou em uma bandeira de luta para sua campanha eleitoral.
Diminuindo o número de latinos como força de trabalho no estado, provocaria uma grande demanda por trabalhadores que os substituíssem em seus postos, forçando o aumento generalizado de salários entre as raças consideradas ''legais''.
Em outubro de 94, cerca de 200,000 imigrantes latinos saíram as ruas de Los Angeles para lembrar sua existência e importância econômica.
Em novembro, independentemente das manifestações e oposições políticas, a proposição toma força de lei com uma vitória de 58,8% dos eleitores. No dia seguinte ao pleito, já vigorava com força oficial.
Apenas três dias depois, uma enxurrada de processos contra a constitucionalidade da lei fez com que o juiz federal, Matthew Byrne emitisse uma ordem de restrição temporária, alegando excesso de autoridade do estado da Califórnia sobre as políticas federais de imigração. Após três anos em corte federal, a juíza Mariana Pfaelzer decide por tornar a restrição permanente, o que fez com que o próprio governador Pete Wilson apelasse a outras cortes federais. No entanto, em 1998 o governador recém eleito Gray Davis opta pelo arquivamento do processo, minando temporariamente a possibilidade de sua promulgação.
Ainda assim, vários processos legais tentaram reativar a proposta, a última a falhar data de 20 de Fevereiro de 2007, o que destaca o caráter ainda recente e ativo desta página fundamental da história da luta entre a opressão e a libertação racial.
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A atmosfera da situação também ficou registrada culturalmente em diversas telas anônimas usadas durante a marcha latina sobre Los Angeles, recentemente mais obras foram adicionadas para compor um mural em recordação a marcha. Eis algumas:
Clique sobre a Imagem para Ampliá-la :
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Brujeria - Raza Odiada (Pito Wilson):
E por fim, é bom lembrar do dia em que o Jello Biafra e o Juan Brujo uniram forças para mandar o protesto ao seus próprios estilos. O disco do Brujeria de 1995, o Raza Odiada tratava diretamente desse assunto. Logo na primeira faixa, pode-se ouvir um discurso fictício em que o Jello Biafra interpreta o governador Pete Wilson, defendendo apaixonadamente a sua lei racial.
Eis o discurso em português:
''Eles continuam vindo, selvagens pobres de pele parda, ultrapassando as barreiras de San Diego e utilizando de nossos carros e de nossas rodovias (rup: ironicamente chamadas de ''freeways'', haha, grande Jello), eles trazem suas lavadeiras a que chamam de esposas, eles fazem trabalho que os brancos são muito bem capazes de fazer! Eu não ligo se começarmos uma guerra racial! Eu não ligo se isso faça com que cada selvagem de pela parte fuja daqui! Quem liga?
Eu, Pete Wilson para governador e presidente!
Após aplausos, Brujo e seu camarada em espanhol:
- O que ele disse?
- Disse que quer extinguir a ''raça'', não! não! Disse que quer matar a ''raça''!
Pete volta a falar:
Eu, Pete Wilson lhes ofereço a Proposição 187! (armas sendo carregadas!) NESSE PAÍS OU VOCÊ FALA INGLÊS OU VOCÊ SAI!
Brujo:
Ingles hai hueblo??? (tiros, muitos tiros)
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Tirem suas próprias conclusões
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Holocausto Psiquiátrico Brasileiro
Por Austry Carrano, retirado do sítio anarkopunk.org.
Em menos de um século o sistema manicomial brasileiro matou mais de 300.000 (trezentas mil) pessoas e inutilizou numero semelhante. Perfazendo 600.000 (seiscentas mil) vítimas numero suficiente pra classificarmos de: Holocausto Psiquiátrico Brasileiro.
Estamos cansados de saber que os profissionais do Direito, não defendem sempre a busca pela Justiça. Evidencia que as regras do Direito defendem as classes dominantes, ou seja, quem tem dinheiro tem Direto ao Direito. A justiça é cega, já que é cega pode ser manuseada pelo Direito de acordo com inúmeros e os mais variados tipos de interesses. O Direito se prevalece disso, e ao contrário da Justiça que é cega, tem milhares de olhos e centenas de artimanhas.
A história da humanidade tem no seu currículo alguns mártires que se opuseram aos poderosos ditames das diversas verdades criadas e aceitas pelas interpretações das mesquinharias humanas.
Verdades essas, que, por gerações foram aceitas e fazendo parte das culturas dessas sociedades. Esses Preciosos Revolucionários de tais Verdades balançam-nas tentando aniquilar as mesquinharias tidas e aceitas que foram fincadas a qualquer custo
com aval e conivência do comodismo humano. Urgem, como visionários e contestadores, das mais diversificadas situações, tentando colocar luz e solidariedade em questões já concretas e aceitas como únicas.
Verdades, que se tornam até culturas.
A Cultura Manicomial implantada há mais de um século por uma falsa psiquiatria, dona exclusiva das técnicas, experiências e uso exclusivo do saber psiquiátrico? condenou milhares de pacientes a conviverem com os piolhos; as muquiranas; o dormir e viver cagado; o nu psiquiátrico; as doenças da falta de higienes básicas; cubículos; lençóis de força; alas proibidas; eletrochoque; lobotomia; cirurgias e experiências com cobaias humanas; enfim confinou milhões de pessoas durante mais de século como presidiários psiquiátricos e gerando a falta de vida, prevalecendo o Zumbinismo (tradução: Zumbinismo ? Vida do Morto Vivo)!... Essas práticas são responsáveis pelo Holocausto Psiquiátrico Brasileiro.
Esse caos, que insiste em continuar escondido aos olhos de uma sociedade mantida por omissões que protegem do comprometimento; por comodismos e conivências que imperam sobre a busca das soluções.
- Sociedade avalista direta do Holocausto Psiquiátrico Brasileiro e das grandes Fortunas Psiquiátricas Brasileiras.
Nos anos 70, 80 e começo dos anos 90, eram em média de 600.000 (seiscentas mil) internações ano em 453 Chiqueiros Psiquiátricos Brasileiros com média de 15.000 a 20.000 mortes por ano! Governo Militar uniu-se como mão e luva com a psiquiatria brasileira, usando seus Hospitais Psiquiátricos como mais um lugar de inutilização e desaparecimento de brasileiros contrários a Ditadura Militar. Um Bilhão de dólares por ano, roubados dos nossos impostos, em conluio com o governo foram repassados aos Donos dos Hospícios. (Artigo da Revista Veja, São Paulo, 22 fev., 1998, pág. 110).
Em menos de um século o sistema manicomial brasileiro matou mais de 300.000 (trezentas mil) pessoas e inutilizou numero semelhante. Perfazendo 600.000 (seiscentas mil) vítimas numero suficiente pra classificarmos de Holocausto Psiquiátrico Brasileiro. Esta falsa e criminosa Psiquiatria que confina, droga, estupra e mata cometeu crimes jamais vistos em toda a historia da psiquiatria mundial. Dados do Ministério da Saúde.
Ninguém foi responsabilizado, e nem sequer falam em Indenizações Digna a alguma vítima ou familiar. Não existem Indenizações ou Punições Judiciais no Brasil por Erros e Crimes Psiquiátricos.
Às vezes creio que esta profissão de psiquiatra está acima das nossas Leis Constitucionais, e porque não acharmos que acima dos Direitos Humanos, que também se mantem omissos na questão de cobrar responsabilidades e
indenizar as vítimas dessa decantada ?Psiquiatria Moderna?, rótulo este que já ultrapassa os cinqüenta anos.
Quando conseguimos sobreviver aos internamentos dentro desses Chiqueiros Psiquiátricos Brasileiros, nos colocam na sociedade onde sofremos todos os tipos criativos de preconceitos sociais.
Muitos de nós somos condenados como Mendigos Psiquiátricos, e povoamos as ruas de nossas cidades. Ao paciente e ex-paciente psiquiátrico vitima de erros de diagnósticos grosseiros e tratamentos inadequados realizados desleixosamente por médicos psiquiátricos, nos é negado todos os nossos Direitos de Cidadão e nossos Direitos Constitucionais.
Estive internado por três anos e meio (dos 17 anos até quase os 21 anos) pela família que encontrou um cigarro de maconha. Fui submetido a todo o tipo de violência psiquiátrica, inclusive vítima de 21 aplicações de eletroconvulsoterapia, além de coquetéis de medicação. Deixaram seqüelas físicas e emocionais.
Entrei com a primeira Ação Judicial em todo o histórico forense brasileiro, exigindo Indenização por Tortura, Erro Psiquiátrico e Crimes aos meus Direitos de Cidadão, em 13 de maio de 1998. Em maio de 1999, fui condenado a pagar R$ 60.000 (sessenta mil reais) aos médicos psiquiatras que me torturaram e por pouco não me mataram. Estas condenações não devem servir de exemplo para que outros vitimados psiquiátricos se abstenham de seus Direitos Constitucionais, devem sim judicialmente Exigi-los.
A nós vítimas psiquiátricas, por enquanto, só nos sobram o Direito a nada do nada...Até quando eles, os psiquiatras que denigrem e criminalizam esta profissão de cunho altruísta, serão intocáveis perante nossas Leis e nossos Direitos de Cidadão?
Sou um sobrevivente intelectual dos horrores psiquiátricos, mas isso não apaga de minha memória as torturas, humilhações e sofrimentos dentro das quatro instituições psiquiátricas que estive internado.
Essas lembranças, e os preconceitos sociais sempre me acompanharam até o fim de minha existência...Quem tortura esquece, o torturado jamais!
O Judiciário Brasileiro se mantem calados, cegos, mudos, inoperantes até hoje.
Os Erros, Abusos e Crimes Psiquiátricos no Brasil estão Acima das nossas Leis Constitucionais.
Até quando Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; Poder Judiciário; Direitos Humanos Nacionais e Internacionais; Sociedade Brasileira; serão todos coniventes e ficarão omissos a esses Crimes Psiquiátricos.
Dividas Sociais já pagas aos presos políticos, e a nós vítimas psiquiátricas, as omissões sociais. Os preconceitos sociais são os mais criativos e cruéis, e os sentimos diariamente. Até ser saudada esta dívida social, não seremos pessoas dignas de nos chamar de cidadão.
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Austregésilo Carrano Bueno.
Escritor, dramaturgo, ator, diretor de teatro e ex-paciente psiquiátrico.
Autor do Livro Canto dos Malditos, que originou o Filme Bicho de Sete Cabeças. É o filme mais premiado da cinematografia brasileira com 53 prêmios sendo 08 prêmios internacionais de cinema;
Representante Nacional dos Usuários (pacientes psiquiátricos) na Reforma Psiquiátrica e na Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Ministério da Saúde; Homenageado em 28 de maio de 2003 pelo Ministério da Saúde e
pelo Presidente da Republica Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, por sua Luta pela Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Membro Ativista do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLA)
Defensor Ferrenho dos Direitos Constitucionais de Indenizações Dignas às Vítimas Psiquiátricas do Brasil.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Nem toda a mídia se vendeu!
Ainda há esperança para a massa pensante desse país.A Revista do Brasil vem nos mostrar que ainda existe vida na midia brasileira,sendo imparcial e tendo opinião sobre o Brasil em todo o seu conteúdo.Em contato com seu editor, Paulo Donizetti de Souza, foi-nos liberado divulgar algumas das matérias do site da revista.Como em minha cidade a revista ainda não é distribuida, o site fica sendo,pra mim,a fonte mais fácil de contato com suas publicações.Procure em sua cidade, transforme sua leitura em luta contra a alienação.
A matéria que escolhi como apresentação,mostra a força que tinhamos na mão e que de alguma forma escorreu pelos dedos frágeis dos jovens de hoje!!
Ao senhor Paulo Donizetti de Souza,o meu muito obrigado.
1968: o vôo e a queda
O jovem é como Ícaro:
Quer conhecer a vertigem
Do vôo e da queda,
Quer habitar a imagem
Que julgou ter decifrado
E deixará como um sonho.
Como a luz das estrelas
Não sabe o que é perecer,
E se lhe choram a memória
Perguntará: por quê?
As manhãs se renovam
Sem nenhuma explicação.
“O Jovem”, de Paulo Neves
Por Flávio Aguiar
“É preciso liquidar maio de 1968.” A frase, do conservador presidente da França, Nicolas Sarkozy, expõe toda a força que essa data, no auge de seus 40 anos, ainda guarda. Para os que a viveram e para os que dela são herdeiros. Como se pode querer “matar” um mês, um ano? Maio e 1968 não foram apenas um mês, um ano: foram um karma, uma explosão e uma implosão, uma escrita e um apagar, um vôo e uma queda, como diz o poema de Paulo Neves.
Como referência histórica, o ano de 1968 começou em 30 de janeiro, no Vietnã, continuou em fevereiro em Berlim, explodiu em maio em Paris, entrou em declínio em agosto em Praga, na então Tchecoslováquia, e, visto da América Latina, terminou melancolicamente no dia 13 de dezembro no Rio de Janeiro.
Em 30 de janeiro começou um episódio da Guerra do Vietnã conhecido como Ofensiva do Tet. Tet é o nome do ano novo lunar asiático, feriado naquela região. A ofensiva fora preparada desde um ano antes, 1967, considerado particularmente bem-sucedido pelo governo norte-americano, que sustentava o governo do Vietnã do Sul, capitalista, contra o do Vietnã do Norte, comunista, inclusive com a presença de milhares de militares engajados diretamente em combates. Os norte-americanos tinham iniciado um programa que chamavam de “pacificação”, que envolvia a neutralização de áreas dominadas por vietcongues, os guerrilheiros que se opunham ao governo de Saigon, capital do Sul. Esses guerrilheiros recebiam apoio do Norte, armas da União Soviética e da China.
Os Estados Unidos também planejavam começar, em 1968, um programa de reforço do Exército sul-vietnamita, com o objetivo de torná-lo auto-suficiente. Entretanto, no final de janeiro os norte-vietnamitas e os vietcongues lançaram um ataque maciço em todo o Sul, em uma centena de cidades, envolvendo 80 mil combatentes. Na madrugada do dia 31 a ofensiva chegou a Saigon e atingiu simultaneamente alvos como estações de rádio, quartéis, palácio do governo. No feito mais espetacular, 19 guerrilheiros conseguiram entrar no pátio da Embaixada dos Estados Unidos, com o objetivo de destruí-la. Não tiveram êxito: 17 foram mortos e dois capturados, sendo entregues à vingança, mais do que à Justiça, do governo sul-vietnamita.
Tecnicamente, essa macroofensiva é hoje descrita por analistas militares, em particular os de direita, como um fracasso. De fato, nenhum dos grandes objetivos militares foi conquistado. Mas, politicamente, o efeito para os norte-americanos e para os sul-vietnamitas foi devastador. As imagens do ataque à embaixada foram chocantes; a cena do general sul-vietnamita Nguyen Ngoc Loan disparando à queima-roupa na cabeça de um guerrilheiro vietcongue em trajes civis e de mãos amarradas percorreu as televisões do mundo inteiro. Ficou mais patente ainda que os Estados Unidos patrocinavam um governo impopular, corrupto e violento. Protestos contra a guerra se espalharam pelo mundo inteiro, sobretudo nas universidades e entre os estudantes. Ganhou força a resistência ao recrutamento: muitos e muitos jovens norte-americanos fugiam para o Canadá ou para a Europa.
Berlim, Paris e pelo mundo
Em fevereiro, estudantes universitários, liderados pelo jovem Rudi Dutschke, nascido em 1940, organizaram em Berlim Ocidental um congresso sobre a guerra no Vietnã. Formavam a Associação Alemã dos Estudantes Socialistas. Tinham vivido um ano agitado em 1967: durante um protesto contra a presença do xá da Pérsia (hoje Irã) na cidade, um estudante fora morto pela polícia. Os protestos contra a guerra logo incorporaram reivindicações locais contra o conservadorismo nas universidades alemãs, a presença de professores que tinham sido colaboradores do nazismo, e inclusive a presença de ex-membros do Partido Nazista na administração pública alemã.
A movimentação se espalhou por Berlim, pela Alemanha e por toda a Europa e incorporou reivindicações culturais e sociais: mais liberdade de organização nas universidades, mais liberdade para as mulheres, os homossexuais, luta contra preconceitos e o racismo, melhores condições de vida no Terceiro Mundo. Essas mesmas bandeiras também ressonavam nos Estados Unidos, onde crescia a oposição à guerra no Vietnã, e na América Latina, onde se radicalizavam movimentos de resistência aos regimes conservadores na região.
No final de março de 1968, na universidade de Nanterre, arredores de Paris, um protesto contra a guerra no Sudeste Asiático levou à prisão de alguns estudantes. A seguir, sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, então com 23 anos, 300 alunos ocuparam o prédio da administração. E ganharam relevância de novo os protestos contra o conservadorismo do meio oficial universitário, como na Alemanha, espalhando-se por outras universidades do país.
No dia 4 de abril dois atentados abalaram o mundo. No primeiro, o líder negro Martin Luther King foi assassinado em Memphis, Tennessee, nos Estados Unidos. No segundo, o jovem anticomunista Josef Bechmann atirou três vezes contra Rudi Dutschke em Berlim, atingindo-o na cabeça. A morte de Luther King abriu espaço para uma radicalização sem precedentes nos movimentos anti-racistas nos Estados Unidos: revoltas populares em bairros negros de várias cidades levaram a confrontos, incêndios e repressões brutais, além de fortalecer movimentos revolucionários como os Panteras Negras. O assassinato do líder negro seria seguido pelo de Robert Kennedy, em 5 de junho, em Los Angeles, que era candidato à Presidência dos EUA. Rudi ficou parcialmente incapacitado pela perda de massa cerebral.
A partir de maio, os movimentos ganharam mais força em Paris, com a adesão de sindicatos, trabalhadores e setores de classe média. Os protestos e os confrontos com a polícia eram diários na capital francesa. Notabilizaram-se palavras de ordem inventivas, escritas nos muros da cidade, como “Seja realista: peça o impossível” e “É proibido proibir”, que virou letra de música em peça de Caetano Veloso, apresentada num dos festivais daquele ano – em que grande parte do público ficou furiosa porque Caminhando (Para Não Dizer que Não Falei das Flores), de Geraldo Vandré, perdeu o primeiro lugar para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim.
Deve-se dizer que em Paris a polícia jamais usou armas de fogo. Apesar da oposição do Partido Comunista Francês (seu líder Georges Marchais chegou a dizer que o movimento era de jovens da alta burguesia), o movimento cresceu, até arrefecer por si. Mas abriu caminho para temas que dominariam as próximas décadas, como reivindicações de minorias, liberdade nos costumes e meio ambiente. Rudi Dutschke, que morreu na Dinamarca em 1979, em conseqüência de seqüelas de seus ferimentos, é considerado um dos inspiradores do Partido Verde alemão. Daniel Cohn-Bendit é membro do Parlamento Europeu.
Praga
Na Tchecoslováquia, no começo de janeiro, fora eleito primeiro-ministro um político renovador: Alexander Dubcek. Sua eleição marcou o início de uma série de medidas que visavam liberalizar o autoritário regime vigente no país, sob a bandeira comunista. O governo de Dubcek levantou esperanças pelo mundo de que um regime comunista poderia resolver a contradição entre avanços sociais (que todos reconheciam) e falta de liberdade (que os jovens revoltados nas universidades do mundo, inclusive na próxima Polônia, também reconheciam). O período ficou conhecido pela expressão “Primavera de Praga”.
Em 20 de agosto, a União Soviética determinou que os tanques do Pacto de Varsóvia invadissem o país. Dubcek foi preso, levado para Moscou e renunciou. Apesar da resistência popular e passiva à invasão, a primavera chegou ao fim. As reformas foram anuladas. O impacto dessa invasão foi enorme. Se o apoio da União Soviética fora saudado na heróica luta de resistência do povo vietnamita ao governo de Saigon e aos Estados Unidos, agora se enterravam promessas de liberdade num país sob sua área de influência. Aumentou o distanciamento entre os movimentos preferidos pelos jovens e os partidos comunistas apoiados pela URSS.
América Latina e no Brasil
Em 1968 os protestos contra a ditadura cresceram em todo o Brasil. Como nos outros países, as atividades políticas se misturavam com a renovação dos costumes e nas relações pessoais. Nos festivais de música, nos teatros, nos espetáculos, os temas políticos e os protestos se faziam cada vez mais presentes. Manifestações dos estudantes nas ruas, sempre duramente reprimidas, tornaram-se rotina. Num ataque a uma delas, no restaurante universitário Calabouço, no Rio de Janeiro, a polícia acabou matando o estudante Edson Luís. Os protestos no Rio e em todo o país foram imediatos. Em São Paulo, estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP começaram uma revolução interna, com a formação de comissões paritárias para dirigir a instituição. No restante da América Latina também ocorriam protestos, sobretudo no México.
A repressão, igualmente, se intensificava. O clima de confronto cresceu, com muitos grupos de esquerda rompendo com a linha que consideravam “de contemporização” do Partido Comunista Brasileiro e partindo para a luta armada, na cidade e no campo. Em 26 de junho houve o maior protesto contra a ditadura e a repressão, a chamada Passeata dos 100 Mil (leia na pág. seguinte), no Rio de Janeiro, auge e início do declínio das manifestações de rua. Em julho houve ainda grandes greves de trabalhadores, sobretudo em Osasco (SP) e em Contagem (MG), reprimidas com prisões e violência.
Em 2 de outubro uma manifestação de estudantes foi duramente reprimida pela polícia mexicana, no Massacre da Tlateloco, nome da praça onde se deu o fato, com dezenas de mortos. No dia seguinte, a Faculdade de Filosofia da USP foi invadida e saqueada por estudantes de direita e pela polícia. Na madrugada do dia 12 de outubro, a polícia interrompeu o 30o Congresso da União Nacional de Estudantes, em Ibiúna (SP), prendendo quase mil pessoas, entre elas os líderes José Dirceu e Vladimir Palmeira. No mesmo dia, integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) mataram em São Paulo o capitão norte-americano Charles Chandler, acusado de ser agente da CIA e instrutor de torturas e da repressão.
O fim e o legado
No dia 13 de dezembro, durante uma reunião ministerial no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, o presidente Arthur da Costa e Silva decretou o Ato Institucional
nº 5, “em nome da Revolução de 31 de março de 1964”. Dos presentes, apenas o vice-presidente Pedro Aleixo se opôs. O pretexto foi a negação pelo Congresso de autorização para processar o deputado federal Márcio Moreira Alves, que, em discurso, fizera duras críticas ao regime e elogiara a rebelião dos jovens. O AI-5 suprimia todas as liberdades constitucionais, sendo chamado de “golpe dentro do golpe”.
Seguiram-se imediatamente centenas de prisões em todo o país, novas cassações e expulsões de professores, estudantes, sindicalistas, políticos, enfim, de quem se opunha ostensivamente ao regime. O Brasil passou a colaborar ativamente com os regimes ditatoriais na América do Sul. Nestas plagas, foi o fim do ano da “rebelião dos jovens”. Muitos deles aderiram aos grupos clandestinos que tentaram sem sucesso derrubar o regime pelas armas.
Ainda hoje se debatem as causas e o legado dos protestos de 1968. Citam-se com freqüência a chegada aos primeiros anos da maturidade (e ao ensino superior) de uma geração de jovens nascida no final ou depois da Segunda Guerra Mundial, sem compromisso com os valores e as contradições das gerações anteriores. A notável ampliação das comunicações, notadamente da tevê, em escala mundial, também contribuiu, mesmo que contra seus dirigentes, para a difusão das informações e das imagens sobre as revoltas que se sucediam.
Aquele ano ficou, assim, marcado pela presença, ainda hoje evocada, desse personagem social e cultural algo romântico, ousado e rebelde: “o jovem”. Mas também com freqüência se esquece, nas evocações, que havia um clima revolucionário no mundo todo, tanto no mundo capitalista como no comunista. O ano de 1968 marcou o começo da derrota norte-americana no Vietnã, concretizada em 1975. Também marcou o fim das ilusões de que os regimes comunistas do Leste Europeu poderiam se democratizar por si mesmos. Esclerosados, terminariam por ruir no final do século.
Clockwork Orange Soundtrack
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