sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Brasil e a Guerra Cambial.

Saudações.
Liguem as tvs, leiam os jornais, ouçam as rádios, acessem os portais e você será atropelado por uma série de notícias tratando da tal "Guerra Cambial", a maioria delas apontando para o "câmbio artificial" chinês como o grande vilão dessa história. Bem, é verdade que a taxa de câmbio chinesa fortalece suas exportações mas não são os chineses quem sugerem a política monetária brasileira e sim as “forças do mercado”.

A armadilha da “macroeconomia da desindustrialização”, ou seja, o crescimento alimentado pelas altas taxas e com grande decréscimo em investimento, é obviamente a ante-sala do inferno, incapacitando qualquer país de reagir em casos como o que assolou a Europa (principalmente Espanha e Grécia) nos anos 90.

Outro fator preocupante é a política de juros ortodoxa praticada pelo Banco Central brasileiro, coisa que qualquer leitor de pasquim (FSP) sabe.

Mas uma coisa tem sido omitida: 
a Guerra Cambial foi oficialmente deflagrada
quando os Estados Unidos resolveram "exporta" a sua crise interna.

Isso mesmo!
Quando os Estados Unidos passaram a ministrar bilhões de dólares para tentar salvar grandes bancos e agentes financeiros acabou por elevar - e muito - seus déficits públicos. Sua necessidade de importar, aliada a gastos militares que passam da casa de U$ 1 trilhão ao ano, impele o governo estadunidense a encomendar mais e mais levas de impressões de dólares, que na ponta do processo resulta numa superliquidez internacional e ondas especulativas sobre países de livre circulação de capitais como o Brasil.
O resultado é a grande valorização de moedas como o real em relação ao dólar e consequentemente a perda de competitividade industrial, abrindo nova quadra no já citado processo de desindustrialização.

Nessa grande disputa internacional estão em jogo os grandes interesses hegemônicos das grandes potências imperialistas, sobretudo dos Estados Unidos.
Eles querem empurrar o peso da crise, ônus das suas retomadas de desenvolvimento econômico nos ombros dos países em desenvolvimento, que melhor saíram da recessão criada por eles.


Portanto é uma disputa que tem lado: 
ou o lado dos países em desenvolvimento da chamada periferia, 
ou o lado dos EUA. 
Não existe um “terceiro lado”, uma terceira alternativa.

Ao Brasil cabe enfrentar a “Guerra Cambial”
resguardando o interesse nacional com a proteção da economia e da moeda do país e administrar as flutuações do câmbio com a finalidade de alcançar uma taxa capaz de beneficiar o processo de industrialização estabelecendo limites e prazos para a entrada e saída de dólares do país, por exemplo, e reduzir a taxa de juros ao patamar da média dos demais países emergentes para que o Brasil deixe de ser um atrativo especial, é claro.
Tornar mais onerosas e com regulamentação restritiva as operações cambiais no mercado futuro e outras operações financeiras com contratos e derivativos, fortalecer o Fundo Soberano do Brasil e utilizá-lo na ação governamental contra a volatilidade cambial, preservar as contas externas da vulnerabilidade combatendo o crescimento do déficit em transações correntes, incentivar o uso de outras moedas que não o dólar nas relações comerciais com outras nações e articular ações com outros países em desenvolvimento (para que a unidade desse campo tenha força política internacional capaz de impedir a investida das grandes potências imperialistas, em especial dos Estados Unidos) também são outras medidas a serem pensadas para o nosso país.

Outra colocação muito importante:
o Brasil não pode se utilizar de espaços em fóruns internacionais para se fazer paladino do “politicamente correto” em matéria de comércio internacional (por exemplo, “denúncia” do protecionismo chinês, dando o "nosso exemplo" de câmbio e juros pautados pelo livre mercado). Neste caso o “politicamente correto” é imposto pelo imperialismo como em 1979, quando Paul Volcker – então presidente do Fed (Federal Reserve, o Banco Central Americano), de forma unilateral elevou os juros americanos, empurrando para os países devedores o pesado ônus de suas dívidas externas. É preciso colocar o dedo na ferida dos verdadeiros responsáveis por esta insanidade econômica, notadamente os Estados Unidos.

Privatizar o lucro e socializar os prejuízos sempre foi a saída das elites,
mas não dessa vez.

(obs.:  texto foi baseado nas recentes opiniões de
Renato Rabelo, Presidente nacional do PCdoB,
com as quais eu concordo em gênero, número e grau)

Um comentário:

Joe "UNABOMBER" Barbara disse...

E novamente os EUA vão emitir moeda aos bancos , em troca de dividas futuras, para que eles possam posar de bons planejadores e oferecerem emprestimos e crédito ao tão sofrido povo americano e assim cai o primeiro dominó da fila. Mas quando o Brasil ou a China faz o mesmo o termo "Guerra Cambial" não é divulgado pelo P.I.G. com tamanha enfase como hoje em dia...
Um pais deve sim fazer o possivel para manter o esilo de vida de sua sociedade, mas nesses dias de globalização, é imperativo que olhemos tb o mercado externo, pois a fila de dominós do mercado atual esta num formato circular.
Os americanos querem quebrar a Asia pois eles proprios estao quebrados como esteve a Asia uns 10 anos antes.
Acabara virando uma ciranda , faltando saber de quem é a vez seguinte.