Saudações.
Com o fim da Copa 2010 (pelo menos pra nós) encontrei nesse texto uma perspectiva diferente sobre o assunto futebol.
Pesso desculpas aos "hermanos" mas rir é melhor do que chorar.
Com o fim da Copa 2010 (pelo menos pra nós) encontrei nesse texto uma perspectiva diferente sobre o assunto futebol.
Pesso desculpas aos "hermanos" mas rir é melhor do que chorar.
Futebol pela revolução
por Bruno Padron "Porpeta"
(bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles)
(bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles)
Imaginemos que o Brasil é um país socialista. Que os trabalhadores deram seu grito de liberdade e construíram a revolução. Se tem algo que, mesmo após a revolução, não há de mudar é o nosso amor pelo futebol.
É sexta-feira! Um garoto chega em casa, por volta da hora do almoço, todo sujo, suado, com a mochila nas costas e muito feliz. Também, não era pra menos, havia acabado de ganhar o título do Torneio Interclasses de Futebol da sua escola. Com sua boa atuação, e um belo gol na sua conta, seu time vencera a final por 3 a 1.
Seu pai, ao vê-lo chegar em casa daquele jeito, ordenou que fosse logo para o banho, a fim de não sujar a casa com as chuteiras. Mas o menino não queria tomar banho, queria compartilhar aquele momento com o pai. E este pôs-se a escutá-lo:
- Pai, fui campeão!! Fui campeão!!
- Campeão do quê, filho?
- Do campeonato da escola! Fiz um gol na final! Ganhamos de 3 a 1!!
- Parabéns, filho! Mas não é motivo para sujar a casa toda.
- Ah! Pai!
- Filho, é muito bom que vocês tenham ganho, mas é pouco. Há anos atrás eu fiz a revolução, o que é um campeonato perto disso?
O filho, sem entender muito bem o significado daquilo, ficou visivelmente triste pela reação do pai. Pudera, aquele campeonato era tudo o que ele queria. Diante disso, o pai foi bastante insensível com a felicidade do filho. E ainda emendou:
- Não importa o campeonato, a revolução é muito mais importante. Mas faça o favor de ganhar o bi no ano que vem, hein!
Quando o garoto nasceu, a revolução já havia acontecido. Ele não tem a menor idéia das grandes mudanças que ocorreram em nosso país. De como era o Brasil antes disso. Daquele momento, ficou só a decepção com o pai.
Mesmo com o pedido de desculpas protocolar do pai, a mágoa demorou a passar.
Um ano se passou, e aí, novo campeonato. Aquelas palavras do pai, no ano anterior, ficaram na memória do garoto. E lá foi ele, atrás do bi!
Jogou bem, fez de tudo, mas com alguns vacilos na marcação, a final terminou com 2 a 1 para o adversário. Uma grande decepção para o garoto, ainda mais porque sabia que não poderia contar com o pai ao chegar em casa.
Nesta hora, uma surpresa. Chegou, visivelmente abatido pela derrota, eis que seu pai, muito diferente do ano anterior, ao ver a tristeza estampada no rosto sujo do seu filho, abraçou-o e disse:
- Não tem problema, filho. A derrota faz parte do jogo. O importante é que você lutou, quis vencer. O resultado é bom, mas não é fundamental. Antes de você nascer, nós fizemos a revolução. Fomos derrotados inúmeras vezes, mas no fim conseguimos a vitória. Mas não nos abatemos com as derrotas, pois sabíamos que em algum momento, venceríamos. O segredo foi esse: nunca desistimos!
O filho, ainda não entendendo o que tudo aquilo significava exatamente, esboçou um sorriso e foi para o banho. Depois almoçou, foi para a cama, e de lá só saiu na hora da janta.
Conforme o tempo foi passando, o menino avançava na escola e no futebol. Cresceu, formou-se no segundo grau e integrava o time de juvenis de um grande clube da cidade. Era visto como uma grande promessa, e logo estaria entre os profissionais. Com a formação escolar, entendia melhor o significado do feito do pai, e orgulhava-se.
Aquele bicampeonato na escola nunca veio.
O jovem agora disputava o Campeonato Brasileiro da sua categoria. Com atuações magníficas, foi artilheiro do campeonato e eleito o melhor jogador, além de, é claro, conquistar o título.
Novamente o garoto chegava em casa, via o pai na sala e contava logo a notícia. O pai, cético, dizia:
- Parabéns, meu garoto! Mas faça o favor de trazer o bi dessa vez, hein!
O garoto somente sorriu e agradeceu.
Logo ele foi para o time profissional, e mais uma vez o bicampeonato teve de esperar.
No time de cima, as dificuldades iniciais foram grandes. Adaptar-se a um futebol mais duro, com zagueiros fortes disputando a bola com um garoto de 17 anos, ainda bem franzino, foi um dos grandes obstáculos. O garoto não saiu da reserva, e apesar de alguns bons lances, não teve nenhuma atuação que o colocasse entre os titulares.
Ao fim do campeonato, sem título, sem gols e sem a titularidade, o jovem atacante não teve motivos para sorrir. Mais uma vez, a cena se repetia ao chegar em casa.
Desta vez, o pai quase não falou nada. Só disse:
- Tenha paciência!
E o garoto voltou das férias bem fisicamente. Cuidou-se, foi o mais aplicado nos treinos. Com o novo treinador, adquiriu mais confiança e foi escalado no time titular para a primeira partida do Campeonato Estadual. Apesar de não ter uma atuação de gala, conseguiu em um rebote do goleiro adversário seu primeiro gol no time profissional.
Com o passar da competição, ficava mais confiante. Melhorou suas atuações e ao final do campeonato foi eleito a grande revelação. Teve seu contrato renovado e permaneceu no time titular.
Não foi campeão brasileiro, mas estava na seleção do campeonato. Agora, a promessa havia se tornado realidade.
No ano seguinte, o primeiro título. Foi campeão estadual, artilheiro da competição, o melhor jogador. E, mais uma vez, foi para casa encontrar seu pai, que lhe disse:
- Você ainda me deve o bicampeonato!
O garoto gargalhou e abraçou o pai. Este, após colocar seu filho na cama, não conteve a emoção e chorou.
Após o Campeonato Brasileiro e a classificação para a Libertadores, recebeu uma proposta para jogar no exterior. Daquelas polpudas!
Recusou!
E o pai perguntou-lhe:
- Filho, você quer jogar no exterior?
- Não!
- Por quê?
- Eu ainda te devo um bicampeonato!
O pai, desta vez na frente do filho, chorou como um garoto.
E o filho, abraçado a seu pai, chorava junto e pensava. Queria muito o bicampeonato.
Por seu pai ou, quem sabe, pela revolução!
Seu pai, ao vê-lo chegar em casa daquele jeito, ordenou que fosse logo para o banho, a fim de não sujar a casa com as chuteiras. Mas o menino não queria tomar banho, queria compartilhar aquele momento com o pai. E este pôs-se a escutá-lo:
- Pai, fui campeão!! Fui campeão!!
- Campeão do quê, filho?
- Do campeonato da escola! Fiz um gol na final! Ganhamos de 3 a 1!!
- Parabéns, filho! Mas não é motivo para sujar a casa toda.
- Ah! Pai!
- Filho, é muito bom que vocês tenham ganho, mas é pouco. Há anos atrás eu fiz a revolução, o que é um campeonato perto disso?
O filho, sem entender muito bem o significado daquilo, ficou visivelmente triste pela reação do pai. Pudera, aquele campeonato era tudo o que ele queria. Diante disso, o pai foi bastante insensível com a felicidade do filho. E ainda emendou:
- Não importa o campeonato, a revolução é muito mais importante. Mas faça o favor de ganhar o bi no ano que vem, hein!
Quando o garoto nasceu, a revolução já havia acontecido. Ele não tem a menor idéia das grandes mudanças que ocorreram em nosso país. De como era o Brasil antes disso. Daquele momento, ficou só a decepção com o pai.
Mesmo com o pedido de desculpas protocolar do pai, a mágoa demorou a passar.
Um ano se passou, e aí, novo campeonato. Aquelas palavras do pai, no ano anterior, ficaram na memória do garoto. E lá foi ele, atrás do bi!
Jogou bem, fez de tudo, mas com alguns vacilos na marcação, a final terminou com 2 a 1 para o adversário. Uma grande decepção para o garoto, ainda mais porque sabia que não poderia contar com o pai ao chegar em casa.
Nesta hora, uma surpresa. Chegou, visivelmente abatido pela derrota, eis que seu pai, muito diferente do ano anterior, ao ver a tristeza estampada no rosto sujo do seu filho, abraçou-o e disse:
- Não tem problema, filho. A derrota faz parte do jogo. O importante é que você lutou, quis vencer. O resultado é bom, mas não é fundamental. Antes de você nascer, nós fizemos a revolução. Fomos derrotados inúmeras vezes, mas no fim conseguimos a vitória. Mas não nos abatemos com as derrotas, pois sabíamos que em algum momento, venceríamos. O segredo foi esse: nunca desistimos!
O filho, ainda não entendendo o que tudo aquilo significava exatamente, esboçou um sorriso e foi para o banho. Depois almoçou, foi para a cama, e de lá só saiu na hora da janta.
Conforme o tempo foi passando, o menino avançava na escola e no futebol. Cresceu, formou-se no segundo grau e integrava o time de juvenis de um grande clube da cidade. Era visto como uma grande promessa, e logo estaria entre os profissionais. Com a formação escolar, entendia melhor o significado do feito do pai, e orgulhava-se.
Aquele bicampeonato na escola nunca veio.
O jovem agora disputava o Campeonato Brasileiro da sua categoria. Com atuações magníficas, foi artilheiro do campeonato e eleito o melhor jogador, além de, é claro, conquistar o título.
Novamente o garoto chegava em casa, via o pai na sala e contava logo a notícia. O pai, cético, dizia:
- Parabéns, meu garoto! Mas faça o favor de trazer o bi dessa vez, hein!
O garoto somente sorriu e agradeceu.
Logo ele foi para o time profissional, e mais uma vez o bicampeonato teve de esperar.
No time de cima, as dificuldades iniciais foram grandes. Adaptar-se a um futebol mais duro, com zagueiros fortes disputando a bola com um garoto de 17 anos, ainda bem franzino, foi um dos grandes obstáculos. O garoto não saiu da reserva, e apesar de alguns bons lances, não teve nenhuma atuação que o colocasse entre os titulares.
Ao fim do campeonato, sem título, sem gols e sem a titularidade, o jovem atacante não teve motivos para sorrir. Mais uma vez, a cena se repetia ao chegar em casa.
Desta vez, o pai quase não falou nada. Só disse:
- Tenha paciência!
E o garoto voltou das férias bem fisicamente. Cuidou-se, foi o mais aplicado nos treinos. Com o novo treinador, adquiriu mais confiança e foi escalado no time titular para a primeira partida do Campeonato Estadual. Apesar de não ter uma atuação de gala, conseguiu em um rebote do goleiro adversário seu primeiro gol no time profissional.
Com o passar da competição, ficava mais confiante. Melhorou suas atuações e ao final do campeonato foi eleito a grande revelação. Teve seu contrato renovado e permaneceu no time titular.
Não foi campeão brasileiro, mas estava na seleção do campeonato. Agora, a promessa havia se tornado realidade.
No ano seguinte, o primeiro título. Foi campeão estadual, artilheiro da competição, o melhor jogador. E, mais uma vez, foi para casa encontrar seu pai, que lhe disse:
- Você ainda me deve o bicampeonato!
O garoto gargalhou e abraçou o pai. Este, após colocar seu filho na cama, não conteve a emoção e chorou.
Após o Campeonato Brasileiro e a classificação para a Libertadores, recebeu uma proposta para jogar no exterior. Daquelas polpudas!
Recusou!
E o pai perguntou-lhe:
- Filho, você quer jogar no exterior?
- Não!
- Por quê?
- Eu ainda te devo um bicampeonato!
O pai, desta vez na frente do filho, chorou como um garoto.
E o filho, abraçado a seu pai, chorava junto e pensava. Queria muito o bicampeonato.
Por seu pai ou, quem sabe, pela revolução!
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