domingo, 4 de julho de 2010

Futebol pela revolução

Saudações.
Com o fim da Copa 2010 (pelo menos pra nós) encontrei nesse texto uma perspectiva diferente sobre o assunto futebol.
Pesso desculpas aos "hermanos" mas rir é melhor do que chorar.

Futebol pela revolução

por Bruno Padron "Porpeta"
(bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles)

Imaginemos que o Brasil é um país socialista. Que os trabalhadores deram seu grito de liberdade e construíram a revolução. Se tem algo que, mesmo após a revolução, não há de mudar é o nosso amor pelo futebol.

É sexta-feira! Um garoto chega em casa, por volta da hora do almoço, todo sujo, suado, com a mochila nas costas e muito feliz. Também, não era pra menos, havia acabado de ganhar o título do Torneio Interclasses de Futebol da sua escola. Com sua boa atuação, e um belo gol na sua conta, seu time vencera a final por 3 a 1.

Seu pai, ao vê-lo chegar em casa daquele jeito, ordenou que fosse logo para o banho, a fim de não sujar a casa com as chuteiras. Mas o menino não queria tomar banho, queria compartilhar aquele momento com o pai. E este pôs-se a escutá-lo:

- Pai, fui campeão!! Fui campeão!!

- Campeão do quê, filho?

- Do campeonato da escola! Fiz um gol na final! Ganhamos de 3 a 1!!

- Parabéns, filho! Mas não é motivo para sujar a casa toda.

- Ah! Pai!

- Filho, é muito bom que vocês tenham ganho, mas é pouco. Há anos atrás eu fiz a revolução, o que é um campeonato perto disso?

O filho, sem entender muito bem o significado daquilo, ficou visivelmente triste pela reação do pai. Pudera, aquele campeonato era tudo o que ele queria. Diante disso, o pai foi bastante insensível com a felicidade do filho. E ainda emendou:

- Não importa o campeonato, a revolução é muito mais importante. Mas faça o favor de ganhar o bi no ano que vem, hein!

Quando o garoto nasceu, a revolução já havia acontecido. Ele não tem a menor idéia das grandes mudanças que ocorreram em nosso país. De como era o Brasil antes disso. Daquele momento, ficou só a decepção com o pai.

Mesmo com o pedido de desculpas protocolar do pai, a mágoa demorou a passar.

Um ano se passou, e aí, novo campeonato. Aquelas palavras do pai, no ano anterior, ficaram na memória do garoto. E lá foi ele, atrás do bi!

Jogou bem, fez de tudo, mas com alguns vacilos na marcação, a final terminou com 2 a 1 para o adversário. Uma grande decepção para o garoto, ainda mais porque sabia que não poderia contar com o pai ao chegar em casa.

Nesta hora, uma surpresa. Chegou, visivelmente abatido pela derrota, eis que seu pai, muito diferente do ano anterior, ao ver a tristeza estampada no rosto sujo do seu filho, abraçou-o e disse:

- Não tem problema, filho. A derrota faz parte do jogo. O importante é que você lutou, quis vencer. O resultado é bom, mas não é fundamental. Antes de você nascer, nós fizemos a revolução. Fomos derrotados inúmeras vezes, mas no fim conseguimos a vitória. Mas não nos abatemos com as derrotas, pois sabíamos que em algum momento, venceríamos. O segredo foi esse: nunca desistimos!

O filho, ainda não entendendo o que tudo aquilo significava exatamente, esboçou um sorriso e foi para o banho. Depois almoçou, foi para a cama, e de lá só saiu na hora da janta.

Conforme o tempo foi passando, o menino avançava na escola e no futebol. Cresceu, formou-se no segundo grau e integrava o time de juvenis de um grande clube da cidade. Era visto como uma grande promessa, e logo estaria entre os profissionais. Com a formação escolar, entendia melhor o significado do feito do pai, e orgulhava-se.

Aquele bicampeonato na escola nunca veio.

O jovem agora disputava o Campeonato Brasileiro da sua categoria. Com atuações magníficas, foi artilheiro do campeonato e eleito o melhor jogador, além de, é claro, conquistar o título.

Novamente o garoto chegava em casa, via o pai na sala e contava logo a notícia. O pai, cético, dizia:

- Parabéns, meu garoto! Mas faça o favor de trazer o bi dessa vez, hein!

O garoto somente sorriu e agradeceu.

Logo ele foi para o time profissional, e mais uma vez o bicampeonato teve de esperar.

No time de cima, as dificuldades iniciais foram grandes. Adaptar-se a um futebol mais duro, com zagueiros fortes disputando a bola com um garoto de 17 anos, ainda bem franzino, foi um dos grandes obstáculos. O garoto não saiu da reserva, e apesar de alguns bons lances, não teve nenhuma atuação que o colocasse entre os titulares.

Ao fim do campeonato, sem título, sem gols e sem a titularidade, o jovem atacante não teve motivos para sorrir. Mais uma vez, a cena se repetia ao chegar em casa.

Desta vez, o pai quase não falou nada. Só disse:

- Tenha paciência!

E o garoto voltou das férias bem fisicamente. Cuidou-se, foi o mais aplicado nos treinos. Com o novo treinador, adquiriu mais confiança e foi escalado no time titular para a primeira partida do Campeonato Estadual. Apesar de não ter uma atuação de gala, conseguiu em um rebote do goleiro adversário seu primeiro gol no time profissional.

Com o passar da competição, ficava mais confiante. Melhorou suas atuações e ao final do campeonato foi eleito a grande revelação. Teve seu contrato renovado e permaneceu no time titular.

Não foi campeão brasileiro, mas estava na seleção do campeonato. Agora, a promessa havia se tornado realidade.

No ano seguinte, o primeiro título. Foi campeão estadual, artilheiro da competição, o melhor jogador. E, mais uma vez, foi para casa encontrar seu pai, que lhe disse:

- Você ainda me deve o bicampeonato!

O garoto gargalhou e abraçou o pai. Este, após colocar seu filho na cama, não conteve a emoção e chorou.

Após o Campeonato Brasileiro e a classificação para a Libertadores, recebeu uma proposta para jogar no exterior. Daquelas polpudas!

Recusou!

E o pai perguntou-lhe:

- Filho, você quer jogar no exterior?

- Não!

- Por quê?

- Eu ainda te devo um bicampeonato!

O pai, desta vez na frente do filho, chorou como um garoto.

E o filho, abraçado a seu pai, chorava junto e pensava. Queria muito o bicampeonato.

Por seu pai ou, quem sabe, pela revolução!

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