sábado, 29 de novembro de 2008

Contradição

Duas notícias implicitamente contraditórias, lançadas em um mesmo mês (novembro) em dois jornais diferentes. (O The Guardian inglês e o The Christian Science Monitor americano).

Eis a primeira:

Brasil é 'exemplo para o mundo' no combate à pobreza, diz jornal dos EUA.
Posse de Luiz Inácio Lula da Siva (arquivo)
Jornal fala do crescimento da Bolsa Família no governo Lula
O sucesso da Bolsa Família e de outras iniciativas brasileiras no combate à pobreza foi tema de uma longa reportagem publicada nesta quinta-feira, de uma série sobre o país feita esta semana pelo jornal americano The Christian Science Monitor.

"Embora a crise financeira global esteja afetando o Brasil, a economia do país teve uma efervescência nos últimos cinco anos e o padrão de vida dos pobres subiu", disse o jornal, explicando que "inflação mais baixa e acesso mais fácil ao crédito - juntamente com um salário mínimo mais alto - criaram uma nova classe de consumidores que mantiveram a economia em crescimento."

"Com o maior programa de bem-estar com condições do mundo para os pobres, e uma enorme quantidade de iniciativas locais, estaduais e federais que continuam a ter como alvo os pobres - um marco da Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva - muitos brasileiros estão sentindo uma estabilidade econômica como nunca antes."

E as iniciativas brasileiras estão servindo de "exemplo" para vários países, diz o jornal americano.

A reportagem, assinada por Sara Miller Llana, visitou Maria Joelma da Silva em Cumaru, no nordeste brasileiro. Segundo o Christian Science Monitor, ela recebeu a visita em agosto de "representantes de Angola, Gana, da União Africana e do Banco Africano de Desenvolvimento", que queriam "estudar os programas sociais do Brasil".

A Bolsa Família "teve um papel importante na redução da pobreza, o governo também trabalhou para criar mais empregos formais - 8,1 milhões mais desde que Lula assumiu o cargo - e elevou o salário mínimo para R$ 415 (US$ 187) por mês a partir de R$ 200 (US$ 90) por mês. O número dos pobres caiu de 18% em 2007 dos 19% do ano anterior. De acordo com dados do governo, a renda dos mais pobres aumentou 22% nos últimos cinco anos, enquanto a dos ricos aumentou 4,9%", disse a reportagem do Christian Science Monitor.

"Os primeiros programas de transferência condicional de dinheiro do mundo foram introduzidos no Brasil em 1995 a nível municipal", de acordo com o jornal americano, que afirma que "o conceito, desde então, tomou pé firme na América Latina, onde mais de uma dúzia de programas como estes foram lançados. Uma outra dúzia está sendo implementada no resto do mundo."

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Segunda:

Super-ricos brasileiros passam ilesos pela crise, diz 'Guardian'
Real
O jornal diz que os ricos continuam gastando dinheiro, apesar da crise
Uma reportagem publicada na edição deste sábado do jornal britânico The Guardian afirma que, até agora, os super-ricos brasileiros passaram relativamente incólumes pela crise financeira.

Segundo o jornal, eles resistem à tendência global e continuam consumindo.

"Revistas de comportamento estão cheias de anúncios de spas e resorts, bolsas de estilistas famosos e pulseiras de diamantes que custam mais do que muitos brasileiros ganham durante a vida inteira", diz a matéria.

O Guardian afirma ainda que o Brasil é líder mundial no aumento do número de milionários.

"Nos últimos dois anos, o número de milionários subiu de 130 mil para 220 mil e pelo menos por enquanto, a crise econômica não fez com que eles parassem de gastar", diz o texto.

Apesar disso, a reportagem cita a queda nos preços das commodities e o atraso em grandes projetos de infra-estrutura como alguns dos indícios de que a crise financeira está começando a atingir o Brasil.

Para o jornal, as classes baixa e média também estariam sendo afetadas com a situação do crédito.

"No entanto, a crise parece uma possibilidade distante em lugares como o Jardim Pernambuco, onde o silêncio da tarde só é quebrado pelo canto dos pássaros e o barulho das bolas de tênis", diz o Guardian.

Segundo o diário, "os ricos brasileiros podem estar aproveitando a vida luxuosa, mas os compatriotas menos abastados estão começando a sentir os efeitos da crise de crédito".

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Fonte: BBCBrasil.com

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081129_pressricosbrasil_np.shtml

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081129_pressricosbrasil_np.shtml

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Rup: Ainda não entendi como a baixa nas reservas em moeda estrangeira (resultado das exportações mais escassas) e a iminente falta de crédito para investimento não afetou essa ''nata''.

Se eles tiram suas rendas das exportações, e estas estão cada vez mais comprometidas, a única maneira deles continuarem comprando seus ''quitutes'' traquilamente é com um aumento de reservas cambiais (que só Deus sabe como isso pode acontecer) e com uma onsequente desvalorização do dólar. No entanto, sabemos que a tendência atual é exatamente contrária a esta.

Ou eles são gênios acima das regras econômicas, ou tem um certo empurrãozinho, ou eu aprendi tudo errado. E sendo bem sincero, gostaria que fosse a última opção...

A única conclusão que se pode tirar, é que, considerando o escasso crédito do leitor, creio que o melhor é que estes optem pelo The Guardian ao invés do ''outro''...hehe. Acho que não estou sendo parcial, só realista. ^^

8 comentários:

Hellraiser disse...

Saudações, Ruptured.

Deve ser o alvorecer de mais um sábado dedicado ao senhor dos Adventistas, mas não entendi sua colocação..

Onde está a contradição?

Não sou nenhum economista - e nem deveria estar discutindo um assunto tão cheio de nuances e meandros técnicos com um granduando em Relações Internacionais - mas não vejo contradição.

São duas realidades que - sim - podem muito bem partir da mesma realidade. Se não me traírem os neurônios - e nem a memória - é a partir de agora que essas duas realidades vão se distanciar.

Explico:
quando essas "bolhas de riquezas" começarem a sentir os efeitos da crise - se chegarem a sentir - não haverá governo legitimamente eleito pelo sufrágio universal obrigatório (amém) que as deixará desamparadas.

Em detrimento do que?
Adivinha..
..dos míseros ganhos da maior parte da população - sejam através dos famigerados juros, sejam dos ultrajantes juros.

A famosa "socialização dos prejuízos" (malditos socialistas!).

Por exemplo:
há quantos anos a GM do Brasil vem obtendo lucros nessas terras de Cabral? Li não sei onde (mas se eu souber compartilharei aqui) que em nenhuma outra filial, de nenhuma outra parte desse mundo redondo, esses germânicos poluidores do meio-ambiente e alimentadores de ego (segundo a psicologia praticada nos botecos da vida, o carro, nada mais é do que uma projeção fálica que o indivíduo faz de si mesmo) têm aumento de vendas sequer na casa dos dois dígitos - que dirá alcançar os 30 por centos obtidos em vendas no Brasil. Agora, me diga, amigo Rup, quem foram os primeiros a pedir "penico" e extorquir o Hussein que em breve governará o mundo (não é isso?!). Sob ameaças de demissões e até de falência! Isso mesmo, falência! Agora eu te pergunto, de novo: onde o companheiro acha que essas demissões serão feitas? E se não forem, pode ser pior ainda, pois aí os trabalhadores sofrerão com jornadas de trabalhos alucinadas mantidas pelo baixo-custo da mão-de-obra brazuca!

Só pra avisar: em SP - onde temos filiais "chucrutz" em duas das principais cidades do Estado - o Governador Serra já "emprestou" o nosso - do contribuinte que recebe descontado na fonte e, portanto, não tem nem sequer a possibilidade de sonegar - dinheiro aos bebedores de cerveja fabricantes de veículos..

Resumindo: vai ser quando o "bicho pegar" pras elites que a "cobra vai fumar" pra nós!! Aí sim, acredito eu, você não vai mais ver essas duas óticas sobre a mesma realidade.

Por isso, reze 100 ave-marias e 200 pai-nossos e, se der tempo, viste uma boa benzedeira!

Aguardo um "cala-a-boca" ou um pirulito tutti-frutti!
Até mais.

Ruptured disse...

Primeiro! Seu texto está na medida certa, não ficou cansativo como você quis sugerir.

Segundo! Esquece isso de graduando de Relações Internacionais!!! (Três exclamações, notou?)

Terceiro! Vamos ao que interessa:

A contradição para mim residiu no falso mérito que laureou o governo atual em sua cruzada contra a pobreza enquanto que as reservas nacionais, que deveriam estar segurando a barra nesse exato momento, estão sendo canalizadas para as importações frenéticas de bens supérfluos.

Só para ressaltar, não estou criticando as transações internacionais, mas agora, mais do que nunca, é necessário importar o que realmente importa (seria coincidência essa rima?)

O problema é que como a maioria dos geradores de reservas financeiras (leia-se exportações) estão nas mãos desses poucos supericos eles não tem interesse nem a necessidade que um microempresário tem de renovar seus computadores ou de treinar seus funcionários, preferindo brincar de príncipe e princesa em seus seguros castelinhos privados.

A contradição para mim, vem do fato de que administração do país, aplaudida por ser de uma ''esquerda moderada exemplar''(hahaha), nunca vai conseguir passar dessas políticas remediadoras contra a pobreza, que aliás, é tudo que ela sabe fazer.

Não é de se espantar que todos os meios de comunicação de massa estão pra lá de felizes. Comunicando orgulhosamente os fantásticos 80% de aprovação do presidente.

Gostaria de entrar em detalhes técnicos mesmo, apesar de parecerem entediantes, isso é por que geralmente são usados em prol do que já estão bem economicamente. Quando você toma poder desse conhecimento (indo além do que uma graduação pode lhe proporcionar é claro) aí sim você é capaz de perceber as atrocidades implícitas nos discursos tanto de um lado como do outro (leia-se esquerda e direita).

Mas fica para outro dia...valeu pelo comentário Hell.

GANJACORE disse...

MEUS COMPANHEIROS ESTES COMENTÁRIOS SUPER INTELIGENTES MERECIAM SER UM POST! PARABÉNS AOS DOIS PELO ALTO NÍVEL DA DISCUSSÃO!

Hellraiser disse...

Saudações, Rup.
Finalmente, compreendi seu ponto de vista - pelo menos eu acho que entendi. Senão, vejamos:

1.o falso mérito do governo em sua cruzada contra a pobreza;

Rup, tanto quanto você, eu sei que o "Bolsa Família" é assistencialista e que devia sim vir acompanhado da possibilidade de o indivíduo se sustentar, em pouco tempo, sem isso.

Aliás, seria até mais interessante que ao atingir esse nível, ele pudésse ajudar outros que ainda sobrevivem desse projeto - mas aí já me chamariam de comunista e eu não tenho vocação pra usar barba.

Mas não se pode negar que muita gente - e eu digo muita mesmo - realmente depende disso. Não porque descobriram que podem se "encostar" nas benésses federais (Darcy Ribeiro me convenceu disso), mas porque pelos grotões em que foram abandonados e são "encurralados", cultivados em currais, só lhes resta isso mesmo.

No mais, houve um crescimento observável a olho nu na fatia da camada social inclusa na economia brasileira - isso constatado até pelos conservadores! Tanto é assim que, confiando nessa "inclusão" nosso digníssimo presidente pediu que a classe média consuma (mas isso fica pra uma outra discussão, pelamordedeus!!)

Sob essa ótica, acho que o "Bolsa Família" tem 50% de razão pra existir contra 50% de aprimoramentos a ser executado. Mas, no todo, acho que tenho que admitir que se fosse eu, faria o mesmo - ou você não se pega muitas vezes dando esmolas à mendigos mesmo sabendo que isso não ajuda à Revolução?!

2.as reservas nacionais e as importações de bens supérfluos;

As políticas dos governos. Caro Rup, se você me diz que elas devem estar voltadas para a importações de artigos realmente importantes - e eu comcnordo -, então tá! Mas não identifiquei, no seu texto original, a parte que diz que o governo está importando bens supérfluos. Sei de vários pecados cometidos em nome da prevenção das crises mas, pelo menos no texto, não identifiquei nada que desabonasse os "homens das estrelas-vermelhas".

Se os recursos particulares (se bem que, de uma forma ou de outra, eles foram obtidos através do suor de alguns classe-média batedor de cartão) dos Marinho, Garneiro, Magalhães e congêneres estão sendo direcionados à spas, resorts e viagens à Disney, que seja assim - o Mickey nem dará conta de um PATETA à mais em seu reino! Só não podemos deixar que o governo aja dessa forma com o nosso dinheiro!

3.administração do país nunca vai conseguir passar das políticas remediadoras contra a pobreza.

Aí você foi direto ao ponto.
Isso eu também acho.
Nem um político de esquerda, muito menos um de direita, nem Obama, nem McCain, nem eu, nem você (se formos eleitos), nem Jesus Cristo pode fazer nada!
Chama-se "SISTEMA",
um ambiente muito bem construído e controlado que impede que qualquer vida inteligente e ações dirigidas à emancipação do povo prevaleça.

Será que eles têm medo que um povo emancipado possa perceber o quanto é desnecessário ser representado por políticos de carreira? (acrescente muitas doses de ironia nesse último parágrafo, por favor)

4.os meios de comunicação e a aprovação do presidente;

Rup, vou ser curto-e-grosso, não por falta de educação, mas pra não me extender demais. Os Meios de Comunicação de Massa dependem de concessões e, essas, são distribuídas de acordo com interesses políticos. No auge das rádios piratas - que desagradavam às radios "oficiais" mais pelo desvio das verbas publicitárias do que pelas ameaças aos rádios dos aviões e etc, cheguei à pensar que um governo de esquerda poderia oficializar as rádios comunitárias, aquelas que de fato existissem em razão de suas comunidades. Ledo engano. Entrou em cena o "SISTEMA" e emperrou tudo, encampando uma discussão nacional sobre que sistema de tv digital usaríamos - mais classe-média impossível.. Enfim, não é de se estranhar que o Jornal Nacional regozije-se ao dar destaque à aprovação recorde do presidente: eles fizeram isso com os militares, com o Sarney, com o Collor, com o FHC e farão com o próximo hóspede do Palácio do Planalto. Aliás, sugiro o documentário "Além do Cidadão Kane", um documentário produzido pela BBC de Londres - proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial - que trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro (seja ele qual for - sempre).

Você pode assistí-lo aqui:

http://video.google.com/videoplay?docid=-570340003958234038

Por fim, quero agradecer à sua paciência e boa-vontade. Trocar idéias é fundamental sempre.

Despeço-me com algumas frases marcantes, de personalidades idem, para mim:

"Parabéns pelo alto-nível da discussão." (Ganjacore)

"Capitalismo e comunismo são disfarces do fascismo
Violência e miséria são detalhes dos países
Nacionalismo e direitismo são as armas dos burgueses
Armamentismo e imperialismo são os braços dos governos
Moralismo e censura são as facas do inimigo
Anarquia é utopia faça uma todo dia
Ocidente e oriente são apenas mecanismos
Consumismo e egoísmo são as drogas do sistema
Bomba atômica e corrente/porrete servem para a mesma coisa
Seja punk mas não seja burro!"
(Replicantes)

"Um dia você vai descobrir
que todos te odeiam
e te querem morto,
pois você representa perigo
ao poder!
Eles não querem
que você viva
destrua o sistema
antes que ele o destrua
Não acredite,
em falsos lideres
pois todos eles
vão te trair!
Anarquia oi!"
(Garotos Podres)

Ruptured disse...

Lúcido como sempre Hell! Não é fácil achar alguma alma mortal em pleno sábado com essa característica peculiar, o que só comprova que você não faz parte daqueles que tem a vida contada.

Note como essa segunda bateria nos fez convergir em alguns temas, principalmente por via do esclarecimento. Mas naturalmente levantamos novos tópicos, e esses inevitavelmente são a arena da terceira!

Sua resposta foi realmente caprichada, mas acho que vou me demorar um pouco mais na parte 1 e 2.

''Caro Rup, se você me diz que elas devem estar voltadas para a importações de artigos realmente importantes - e eu concordo -, então tá! Mas não identifiquei, no seu texto original, a parte que diz que o governo está importando bens supérfluos.''

Também concordo que não é possível identificar isso no texto, afinal o gasto governamental direto é apenas uma fração do verdadeiro potencial de influência que ele tem. Da mesma forma que o verdadeiro potencial da Rede Globo, por exemplo, não reside nas notícias que ela exibe, mas sim nas que NÃO exibe! Assim como o verdadeiro ''potencial prejudicial'' de um político corrupto não reside no que ele põe em pauta, mas sim que ele intencionalmente NÃO põe, ou articulou para que não pusessem.

Sendo mais direto, meu objetivo é explicar por que não concordo com esta barreira nítida entre os gastos dos supericos e os gastos governamentais em meio à saúde financeira do país. E que por isso, o governo é culpado SIM pelos gastos privados em supérfluos e que, mesmo sem fazer nada diretamente, prejudica as importações de capital produtivo.

Talvez a maioria dos leitores só se interessasse até este último parágrafo, que contem minha opinião, mas vou estou disposto a me delongar bastante para explicá-la, e que se apenas você tiver interesse eu já estarei bem satisfeito.

Vamos lá, como tudo em seu início, vamos explicar as bases, em um sistema livre de qualquer intervenção.

Os personagens fictícios dessa tragédia cômica serão o Brasil, a França e sua cesta de bens disponíveis para importação e exportação.

Imagine que este parágrafo marque o primeiro contato entre esses dois países, e após uma primeira troca de comitivas, os brasileiros percebem que não existe absolutamente nenhum bem e nem mesmo algum atrativo turístico na França que possa lhes interessar.

Ou seja, não existe nenhum impulso econômico para que o Brasil exporte seus bens para a França ou receba seus turistas, uma vez que esta não será capaz de oferecer nada em troca. Por conseqüência, o valor de um Franco é de R$ 0,00.

Algum tempo depois, a França constrói a Torre Eiffel e muitos brasileiros ficam loucos para vê-la. Com este interesse, os brasileiros sabem que durante sua visita, irão precisar de Francos para se alimentar e para pagar o hotel. Com isso, eles vão no Banco Central de seu país para trocar seus Reais por Francos. Só que esta crescente demanda por Francos faz com que o os franceses vendam mais caro sua moeda, e o Banco Central brasileiro repassa os custos dela para os seus conterrâneos. O franco agora tem o valor de R$ 0,50.

Naturalmente, os brasileiros turistas preferiram utilizar suas rendas na França do que no Brasil, mas é claro que tiveram que fazer parte da cadeia produtiva (questão controversa*) para adquirir reais e finalmente trocá-los por Francos e consumi-los na França.

Felizes e realizados, os turistas voltam para o Brasil, mas, como vimos, os franceses venderam seus Francos em troca de Reais, o que significa que eles podem ''encomendar'' produtos da cesta de bens brasileira para levá-los ao seu país. Vamos supor que os franceses importem cachaça, até gastarem todos os seus reais.

Equilibrada a situação, os turistas brasileiros contam a seus conterrâneos o quão fantástico é a Torre e Louvre e a qualidade dos hotéis. Com isso muito mais brasileiros querem ir ver a França, e da mesma forma, sabem que precisarão comprar Francos para tal fim. A nova demanda faz crescer ainda mais o valor do franco, que chega ao nível de paridade com o real.

No entanto, ainda fartos de tanta cana os franceses passam a demandar menos a cachaça brasileira, e não tem mais tanto interesse no real, o que faz com que esta moeda se desvalorize frente ao franco, chegando a valer absurdos R$ 2,50!

Com custos tão exorbitantes apenas para passar as férias, apenas aqueles muito ricos poderão ir a França, e o mercado se equilibrou uma vez que não existe mais como o Brasil sustentar uma grande população de turistas, já que seu produto não é mais tão interessante para os franceses.

Finalmente, entra em cena a Alemanha, cujas Locomotivas seriam de vital importância econômica para o Brasil, o que valoriza o Marco frente ao Real. Para a sorte dos brazucas, os Alemães tem uma crescente demanda por alimentos, que o Brasil dispõe em excesso. O que fixa o preço do Marco a uma paridade com o Real.

Fica claro que as relações a curto prazo com a Alemanha são prioritárias, inclusive para que mais brasileiros possam passar as férias na França, ou aumentem a qualidade da cachaça.

Acho que estou chegando no ponto, em um sistema ideal (que apesar de utópico, nós sempre temos que buscá-lo) até os mais ricos brasileiros saberiam que é muito mais rentável investir no Brasil com a compra de locomotivas do que ir a França esse ano. Ganha o rico e de certa forma, ganha o Brasil como um todo com o direcionamento de sua moeda para um fim economicamente útil.

O problema é que se eles forem SUPERICOS como sugere a nossa situação, comprarão francos assim mesmo pois já tem dinheiro de mais para querer investir. Enquanto que uma companhia ferroviária formada pelo capital conjunto de alguns pequenos empresário sofre com a escassez de moeda.

Se o bom Adam Smith estivesse correto, isso jamais poderia acontecer, pois o capitalismo, apesar de competitivo e implacável, se serve para o crescimento de uma determinada sociedade. E convenhamos que a situação seria até razoável se não fossem todos os mecanismos governamentais permitiram a formação desses Supericos!

Um dos mecanismos você já citou, que é a socialização das perdas. Supondo que os superricos (e provavelmente são) sejam donos também das fazendas que irão produzir os alimentos alemães. Ao invés de investirem em maior capacidade produtiva ou na melhoria da qualidade do produto, o que aumentaria a demanda alemã e valorizaria a moedas, eles podem simplesmente usar seus lobbys políticos para que o Banco Central emita reais desenfreadamente e eleve artificialmente o valor dos alimentos.

Com isso, aqueles que são os donos das fazendas terão a desvalorização da moeda compensada pelo aumento do valor dos alimentos. Mas o restante, e convenhamos que esse restante é a maioria esmagadora, sofre com a inflação, que nada mais é que um mecanismo natural para que eles parem de consumir e exportem para adquirir os francos que irão pagar a viagem do supericos.

Eu ainda poderia explicar mais uma dúzia de mecanismos de ação indireta do governo, como a fixação da taxa de câmbio, arranjos tributários favoráveis e outros nomes que bonitos e charmosos.

O irônico é que, se restringirmos o consumo dos supericos, dizem ser um atentado ao liberalismo. Mas o acúmulo dessa fortuna por vias governamentais não foi...por que será?

Não é a toa que a tipologia partidária americana já se inverteu, lá, os conservadores são os que defendem a ''liberdade'' das empresas e os liberais são os que defendem a maior distribuição do poder econômico. Pois lá a manipulação econômica, embora tão absurda como a nossa, já é um pouco mais transparente.

Em conclusão, é por isso que não concordo que os ''superricos'' podem simplesmente sair por aí consumindo, como se isso fosse um produto justo de seu trabalho dentro das fronteiras brasileiras.

Espero ter passado algo, e imagino que você já tenha percebido a complexidade do problema, uma vez que não temos apenas 3 países, mas estamos na casa das centenas, e não temos apenas 4 bens transacionáveis mas sim na casa dos milhares.

Abraços, ainda volto para comentar o vídeo e os outros tópicos.

BlackHammet disse...

Me perdoem, mas estou atarefado no trampo e a última resposta do Rup eu não li agora. Concordo com o Hell sobre o bolsa família, apesar de muita gente falar mal, o programa realmente tme feito a diferença para quem precisa... Não é o ideal, mas é melhor do que nada.

E sobre a questão dos ricos, e sobre "importar só o essencial nesse momento".... Rup, lembra daquelas conversar em que eu falava que você era utópico demais às vezes? Então.... hehehe

E como eu sempre disse ao Rup, devíamos marcar um dia para todo nós irmos pro bar conversar sobre assuntos "agradáveis" como este e outros =)

Este "Além do cidadão" que Hell indicou eu quase comprei certa vez que fui tocar em um pico e este vídeo estava lá numa barraquinha junto com outros filmes nada agradáveis para o Sistema hehe

Vou tentar baixar o filme inteiro, quem sabe vire um novo post?

BlackHammet disse...

Como eu disse o trampo aqui tá louco hoje... me desculpem pelos erros do coment anterior.

Ruptured disse...

''Rup, lembra daquelas conversar em que eu falava que você era utópico demais às vezes? Então.... hehehe''

Ainda bem q vc disse q não leu o último comentário, nele eu tentei explicar o por que de não achar isso utópico. humf