sábado, 19 de março de 2011

19/03/2011 - EUA, Itália, Inglaterra e França começam o ataque.

Obscenas imagens que, sem nenhuma palavra, dizem muito sobre o mundo.

Seria irônico, se não fosse trágico.
Um dia antes do aniversário da invasão norte-americana ao Iraque, em 2003, o exército dos Estados Unidos se juntou à intervenção militar internacional na Líbia (neste sábado, 19/03) e lançou uma série de mísseis Tomahawks contra o território líbio.

Obama, em visita ao Brasil, por mensagem, declarou:
"Autorizei hoje o início de uma intervenção militar na Líbia, com o intuito de proteger civis.
Ela agora está em andamento."

Antes dele a França já havia bombardeado o território de Kadafi e a Real Força Aérea Britânicajá havia sido orientada para fazer o mesmo. A Itália também enviou jatos para vôos de reconhecimento e ofereceu a base da OTAN (Organização do tratado do atlântico) para ser o centro de comando da operação. Catar e Emirados Árabes Unidos aguardam ordems para aderir às ações.

Por que ninguém diz abertamente o que está por trás de mais essa intervenção?

A Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e tem a mais alta expectativa de vida do continente. A educação e a saúde recebem especial atenção do Estado. O PIB per capita é de 13,8 mil dólares, o crescimento em 2010 foi de 10,6%, a inflação de 4,5%, a pobreza de 7,4% e a colocação no IDH é 53º (Brasil é 73º) todos esses índices melhores que o do nosso Brasil.
O país dispunha de vultosos ingressos, provenientes da venda de petróleo de alta qualidade, e de grandes reservas em divisas depositadas em bancos das potências européias e Estados Unidos, e com isso podiam adquirir bens de consumo e até armamento sofisticado, fornecido exatamente pelos mesmos países que hoje planejam invadi-lo em nome dos direitos humanos.

Ao se aproximar das potências ocidentais, Kadafi cumpriu rigorosamente suas promessas de desarmamento e ambições nucleares. Com isso, a partir de outubro de 2002, iniciou-se uma maratona de visitas a Trípoli: Berlusconi, em outubro de 2002; Aznar, em setembro de 2003; Berlusconi de novo em fevereiro, agosto e outubro de 2004; Blair, em março de 2004; Schröeder, em outubro de 2004; Chirac, em novembro de 2004. Todos exultantes, garantindo o recebimento de petróleo e a exportação de bens e serviços.

Kadafi, de seu lado, percorreu triunfante a Europa. Recebido em Bruxelas em abril de 2004 por Prodi, presidente da União Europeia; em agosto de 2004 convidou Bush a visitar seu país;

Exxon Mobil, Chevron Texaco e Conoco Philips realizavam os últimos acertos para exploração do óleo por meio de
joint ventures.

Em maio de 2006, os Estados Unidos anunciaram a retirada da Líbia dos países terroristas e o estabelecimento de relações diplomáticas.

Em 2006 e 2007, a França e os Estados Unidos subscreveram acordos de cooperação nuclear para fins pacíficos; em maio de 2007, Blair voltou a visitar Kadafi. A British Petroleum assinou um contrato “extremamente importante” para a exploração de jazidas de gás.

Em dezembro de 2007, Kadafi empreendeu duas visitas a França e firmou contratos de equipamentos militares de 10 bilhões de euros. Contratos milionários foram subscritos com importantes países membros da OTAN.

Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.

O que se passa para que o
cachorro louco, que se transformara em grande amigo, volte a ser o cachorro louco?

De um lado, a evidência de que as potências hegemônicas tudo farão para não perder o controle dessa vital fonte de energia.

De outro, fatores geoestratégicos. Diante da revolta por mudanças democráticas dos países árabes do Norte da África e do Oriente Médio, é fundamental, no caso da Líbia, ter um governo absolutamente confiável, pressionando o vizinho oriental Egito para manter o tratado com Israel e não partir para políticas que desarrumem todo o contexto regional.

Uma intervenção militar aberta implica que os Estados Unidos, Inglaterra, França e demais países optaram por um dos lados da guerra civil líbia, o que aumentará brutalmente os riscos sobre a população civil que, cinicamente, anunciam que pretendem proteger.

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