segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Militarização da América Latina.

Texto humildemente baseado no original de Noam Chomsky para o The New York Times.

Em fevereiro de 2009 a Comissão da América Latina para as Drogas e Democracia (CALDD) emitiu sua análise sobre o programa estadunidense “Guerra contra as Drogas”, empreendimento em escala global (ou seja, desconsiderando qualquer tipo de fronteira) impetrada pelo Tio Sam desde o fim da guerra do Vietnã.

A constatação de que essa política de combate às drogas imposta à força é um total fracasso não chegou a surpreender principalmente porque diversos relatórios, estudos e registros anteriores sempre apontaram para a prevenção e o tratamento como melhor solução para o caso.

Mas nada nunca foi revisto nem mudado.

Por que?

Elementar:
porque os motivos por trás da tão falada política de “guerra às drogas” (assim como a “guerra ao terrorismo”) tem outras razões não divulgadas.

Não divulgadas mas facilmente observáveis.

De George Washington à Barack Obama os Estados Unidos nunca se esqueceram de que nasceram como um império e, como tal, têm o dever heróico/patriótico de estabelecer-se como nação motriz do mundo livre moderno.
Tal vocação passa, inevitavelmente, por nós, pobres vizinhos latinoamericanos.

Acostumados ao imperialismo e a intervir em países alheios (basta lembrar das guerras, dos golpes e das ditaduras nas quais as digitais do Tio Sam sempre foram muito visíveis) os nobres ianques viram-se confrontados em seu próprio território no midiático “onze de setembro”.

Mais do que isso:
a “terra das oportunidades” assiste hoje, atônita, aos primeiros passos da América do Sul rumo ao enfrentamento de seus reais problemas, causadores de misérias, sofrimentos e desigualdades, e à integração local, estágio primeiro da verdadeira independência.

E como afirmou, em 1971, o Conselho de Segurança Nacional do então presidente americano Richard Nixon: “a América não pode esperar estabelecer a ordem em qualquer lugar do mundo se os Estados Unidos não podem controlar a América Latina”.
Pouco depois, Salvador Allende foi deposo no Chile.

Diferente, agora, é a resposta da recém-criada “União das Repúblicas Sul-americanas” (UNASUL) que pretende discutir e atuar sem precisar das bênçãos do Tio Sam.

Foi assim com a ratificação total e absoluta da vitória do governo constitucional de Evo Morales no referendo de 2008 (muito à contragosto das elites apoiadas pela Casa Branca) e no susto que o presidente do Equador, Rafael Correa, deu nos americanos quando prometeu determinar o fim do uso da base militar colombiana de Manta pelo governo americano.

E como os EUA reagiram?

Com a reativação da Quarta Frota americana, responsável por “..ações contra o tráfico e cooperações de segurança, interação paramilitar e bilateral e treinamento multinaciona l” no Caribe, América Central e do Sul e cercanias (é o que diz o anúncio oficial);
e com o interesse declarado na utilização das bases militares colombianas.

Sob o discurso de combater o narcotráfico e o terrorismo esconde-se a idéia de fazer da Colômbia um ponto estratégico regional de operações do Pentágono. Em troca, Álvaro Uribe, presidente colombiano, ganha acesso privilegiado a suprimentos militares do governo americano, transformando-se num dos maiores beneficiários da ajuda militar dos EUA, ao lado de Israel e Egito.

Em agosto de 2008 a UNASUL, novamente, reuniu-se na Argentina para discutir as bases militares americanas na Colômbia. Mesmo que os debates e as suspeitas apequenassem-se atrás de tímidas declarações (“..a América do Sul deve ser mantda como terra de paz..”) e instruções (o Conselho de Defesa Sul-Americano deve investigar os objetivos reais das bases) o fato em si já é um marco (nada divulgado por aqui, diga-se de passagem). É verdade que há uma década a ajuda e treinamento militar para oficiais da América Latina, patrocinado pelos EUA, vem aumentando (muitas vezes baseadas em discursos maniqueístas como “combate ao populismo radical” etc) mas há muito não percebíamos os olhos do Grande Irmão do Norte tão fixos sobre nós.
(obs.: não estranhem se a UNASUL passar a ser vilipendiada pela grande mídia.. faz parte do "projeto"..)


Para saber mais:

Conselho Sul-Americano de Defesa discutirá acordo de bases colombianas.

Argentina está preocupada com uso de bases americanas na Colômbia.

Evo Morales quer propor referendo continental sobre bases colombianas.

Lula e Bachelet criticam pacto que libera bases colombianas para EUA.

Lula pede garantias jurídicas para o uso de bases colombianas pelos EUA.

EUA já frequentam bases colombianas, diz embaixador.

Cessão de bases colombianas pode virar guerra, diz Chávez.

"É preciso vigiar o uso das bases colombianas"

"Vinte bases militares norteamericanas pretendem isolar a Venezuela do mundo"

3 comentários:

Mokona! disse...

É uma pena que América Latina ainda não possua autoridade para dizer não aos pedidos e exigencias dos EUA, ontem influenciaram nos golpes militares, hoje são bases militares, amanhã vai ser o que?

Hellraiser disse...

Saudações, Pandora.
Não é difícil enxergar as marcas do Tio Sam pelo Mundo. "Dividir e Conquistar" sempre norteou os rumos dos Estados Unidos e, dessa forma, eles não só mantiveram-se influentes como nos mantiveram fracos e impotentes.
Espero sinceramente que a UNASUL se estabeleça como um contraponto, uma voz capaz de discordar e de manifestar suas próprias idéias na busca de uma identidade que há muito nos foi negada.
Até lá, vigilância e troca de informação.
Até.

Mokona! disse...

Os governos da América Latina são muito inconstantes, ja foi aprovado pelos deputados na Argentina o projeto de controle das empresas de comunicação, falta agora passar pelo Senado, se ele também aprovar o governo argenteino passa a controlar tudo que vai para a mídia, isso é um crime contra a democracia, isso é censura, é quase uma ditadura. E o problema e que pode influenciar outros países vizinhos.