sexta-feira, 12 de junho de 2009

Progresso em áreas desmatadas na Amazônia não é sustentável, diz estudo

As regiões não desmatadas tem IDH tão baixo quanto as mais desmatadas

Um estudo publicado na última edição da revista científica Science afirma que a derrubada de florestas para criação de pastagens ou plantações na Amazônia tende a provocar uma elevação inicial rápida nos índices de desenvolvimento humano local, mas a vantagem desaparece na medida em que o desmatamento avança.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas compararam os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de 286 municípios amazônicos em diferentes estágios de desmatamento, tendo como base o ano 2000.

O IDH é uma metodologia desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para medir a qualidade de vida e inclui indicadores como renda, expectativa de vida e nível de educação.

Nos municípios que estão nos estágios iniciais do desmatamento ou nos quais o ritmo de desmatamento é alto, os pesquisadores encontraram índices de desenvolvimento humano próximos aos da média nacional e acima da média regional.

Nos municípios com pouco ou nenhum desmatamento e nos municípios com taxas de desmatamentos superior a 60% da área, os índices de desenvolvimento são similares e baixos quando comparados à média nacional.

Duas velocidades

Segundo os pesquisadores, isso sugere que "a expectativa de vida, nível de educação e padrão de vida melhoram mais rápido do que a média nacional nos municípios nos estágios iniciais do desmatamento".

Mas, em um segundo estágio, as condições de vida passam a melhorar num ritmo inferior à média nacional.

O resultado, argumenta o estudo, é que "em termos líquidos, pessoas em municípios que derrubaram suas florestas não estão melhores do que aqueles em muncipíos que não o fizeram."

De acordo com o artigo, a explicação mais provável para o progresso inicial é que "as pessoas se beneficiam dos recursos naturais disponíveis e da melhora no acesso aos mercados oferecida por novas estradas", assim como de investimentos públicos em infra-estrutura, educação e saúde.

A decadência nos padrões de vida "provavelmente reflete a exaustão dos recursos naturais que sustentaram o boom inicial, aliada ao aumento da população local".

O argumento é sustentado por estatísticas que mostram não só a redução da produtividade da exploração da madeira, como também da agricultura e da pecuária - o que "provavelmente reflete a degradação em larga escala dos pastos pela perda de produtividade do solo ou alterações no uso das terras por conta de mudanças nas condições do comércio de terras".

Medidas

Para os pesquisadores, o problema "provavelmente não tem uma solução única".

Entre as medidas propostas, estão apoio a um uso melhor das áreas já desmatadas, restrições a novos desmatamentos e reflorestação de áreas degradadas", além de incentivos a atividades sustentáveis, como manejo florestal e pagamento por serviços ecológicos.

O estudo é assinado por pesquisadores do Instituto Superior Técnico de Portugal, do Imazon, do Centre d'Ecologie Fonctionnelle et Evolutive, da França, e das universidade britânicas de Cambridge, Imperial College London e de East Anglia e coordenado pela pesquisadora Ana Rodrigues, do Instituto Superior Técnico de Portugal.

Um dos autores, o pesquisador Adalberto Veríssimo, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), afirmou à BBC Brasil que o estudo "mostra claramente que desmatamento não compensa, que este modelo baseado na apropriação do patrimônio público não é o caminho nem para o Brasil nem para o mundo".

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse à BBC Brasil que o governo está fazendo a sua parte para quebrar o ciclo de expansão-colapso apontado pelo estudo.

"O que faz sair do ciclo de degradação é injetar tecnologia, recursos e pagar (a população local) para fazer a coisa certa", disse Minc.

O ministro deu como exemplo a nova fase da Operação Arco Verde, iniciada nesta semana pelo governo federal, que deve passar pelos 43 municípios que mais registraram desmatamento, levando informações sobre desenvolvimento sustentável, títulos fundiários e linhas de crédito "verdes".

Para Veríssimo, o ciclo é consequência do "grande dilema do modelo de desenvolvimento baseado na combinação da extração predatória de madeira, seguida pela pecuária". E, para ele, a única forma de sufocar essa dinâmica seria o fim da apropriação ilegal de terras públicas.

"No momento em que a MP 458 está dizendo que vai regularizar as terras de quem faz este jogo (de ocupação ilegal, exploração e novas ocupações), está dando um sinal claro de que as pessoas podem continuar ocupando que o governo em algum momento vai anistiá-la. Do jeito que ela está, ela vai criar condições concretas para que o processo continue na Amazônia", disse Veríssimo.|

Fonte: BBC Brasil

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Ruptured:

Já não é o primeiro post que trago informações técnicas sobre a exploração econômica da Amazônia. No último, foi possível concluir que cada palmo da floresta ´´em pé``, vale muito mais (potencialmente e em termos financeiros)que seu uso para a agropecuária. E este presente post só reforça a idéia de que, mesmo em termos extremamente objetivos, como o IDH, PIB e outras medidas que desconsideram muito do potencial de longo prazo, o desmatamento é uma forma pífia e grosseira de alavancá-los.

Enquanto esse pensamento ingênuo de progresso a curto prazo (leia-se interesses imediatos e individuais) perdurar não há nada que segure a força da devastação.

Por fim, não quero que todos concordem com o que vou dizer, definitivamente é uma idéia em fase de amadurecimento, mas quanto mais penso sobre o assunto, mais fica claro que aqueles que difundem o ideal nacionalista da amazônia, são os mesmo que querem vê-la abaixo. Já é hora de abrirmos a amazônia para empresas que querem vê-la de pé (científicas e ecoturísticas) independetemente de serem ou não de capital nacional. Assim como incentivarmos as populações locais nas atividades que não exigem sua destruição (extrativistas), como fizera Chico Mendes em relação aos borracheiros.

Esse tipo de atividade valoriza o metro quadrado da floresta, e finalmente teremos o suporte econômico para manter a amazônia de pé. Afinal, há muitos anos a floresta é cantada e adorada como símbolo nacional, mas pouco se fez na prática para preservá-la, em virtude de sua pouca valorização prática.

Abram suas mentes a novos paradigmas, e aguardo respostas!

3 comentários:

Hellraiser disse...

Saudações, Rupturede.

Bom vê-lo "ativo" no Talo.

Esse assunto da Amazônia é polêmico, envolve tantas nuances que acabamos nunca sabendo a real situação e perspectivas do assunto.

Na minha opinião o dilema que vivemos em relação à Amazônia é apenas mais uma face da deteriorização do homem.

Explico:
num tempo em que a ética é "maleável" - pra não dizer manipulável -, num tempo em que mercantiliza-se tudo (e todos!), num tempo em que o lucro é o fim e não importa quais meios você utilize para alcançá-lo, desmatar ou proteger é apenas outro aspecto da dicotomia dos valores e ideais humanísticos versus valores e interesses dos homens.

Certa vez, quando conversavamos sobre sua opção pelo vegetarianismo (não sei se o termo correto é esse..) falei que um argumento capaz de me convencer a aderir a essa causa seria o desmatamento causado pelo crescimento da pecuária. Não me lembro bem qual foi sua resposta mas continuo pensando assim.

Por fim acho que "privatizar" a Amazônia - tal como "terceirizamos" a saúde, a educação e até a segurança - é a assinatura final do fracasso do Estado.

Tudo bem, eu sei que sou meio (?) pessimista mesmo, mas é inegável que falhamos
- todos nós -
como homens e como "humanidade".

Até (o fim - ?)

Ruptured disse...

Mas essa é a idéia, o Estado em um país tão grande e heterogêneo como o Brasil é naturalmente inapto a defender coisas como ´´deveres morais``, como o é o suposto dever de todos nós de protegermos a amazônia.

Eu já não ligo se a natureza humana é ou não deteriorada, aliás, eu acredito que a verdadeira arte da política e da economia está em lidar com situações adversas e contraditórias.

E esta é uma, se os brasileiros são incapazes manter a mata de pé apenas com base no seu ´´sentimento``, nada mais justo de que permitir a exploração sustentável.

O fato é que o tempo ta passando e as empresas brasileiras não tem capacidade estrutural para transformar os recursos da mata sem destruí-la. Tudo que somos capazes de fazer é tocar fogo em tudo e plantar um belo capinzal. (deprimente)

O fato é que a maioria está totalmente bitolada com aquelas idéias românticas de ´´a amazônia é nossa`` e nem sequer se passa pela cabeça um projeto extensivo de investimento sustentável através de capital externo.

Mas o mais brilhante de tudo é que várias empresas multinacionais já detêm extensas parcelas da floresta, mas são as erradas! Vide MacDonalds que pôs tudo abaixo para alimentar futuros MacNuggets!

Aí sim eu concordo em relação a natureza humana...chega a ser uma grande onda de cinismo nacional.

Só pra finalizar, gostaria de lembrar que cada caso é um caso. A entrade de capitais externos na amazonia é resultado de uma conjuntura específica que ela oferece. Não significa que devemos privitizar o petróleo por exemplo, esse nós já sabemos cuidar muito bem obrigado.

Valeu! Aguardo tréplica, rsrs

Joe "UNABOMBER" Barbara disse...

Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa tem sua parcela do que consideramos 'È nossa!".Acham lindo chamar de Pulmão do mundo por não criarem algo tão poetico para "chuva",esse sim, o principal motivo de ser tão vital a toda Humanidade.
Os homens de estado do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e Maranhão não conseguem defender nem ao menos suas parcelas e o Estado vive a mercê de acordos seja com madereiras ,serigueiros, agropecuaristas e um sem numeros de profissionais de extrações.
Concordo muito com o uso eco-cientifico da floresta desde que a proteção e controle das expedições fique a cargo das Forças Armadas e não de jagunços. E principalmente do uso direto dos países,onde encontrado, das descobertas cientificas, principalmente as da industria farmaceutica. A biopirataria sempre riu com suas descobertas milionarias num país de sistema de saude arcaico e falido.
A entrega indiscriminada fara a população pagar caro e morrer em filas de postos de saude por falta de chazinhos indigenas, que quando descobertos e industrializados podem salvar vidas a módicos milhões de dolares na "Importação" do produto.