Saudações.
Clube de trocas, cooperativas de trabalhadores e de consumidores, bancos comunitários.
Essas podem ser as melhores respostas à crise econômica.
A Economia Solidária ganha cada vez mais espaço no mundo e, no Brasil, não é diferente. Iniciativas dinâmicas como essas dão condições de sobrevivência às periferias - sejam das grandes cidades, das de pequeno e médio porte, seja no campo.
Existe até a Secretaria de Economia Solidária, encabeçada pelo economista Paul Singer, que é ligada ao Ministério do Trabalho. Ele explica que a diferença entre Economia Capitalista e Economia Solidária é que a capitalista se baseia essencialmente na propriedade privada, de meios de produção, ou seja, as fábricas, os escritórios, as clínicas, tudo tem dono. Esse dono é quem emprega trabalhadores em troca de um salário e que os trabalhadores façam o que ele manda. Na economia capitalista, a empresa está inteiramente a serviço dos interesses do dono, que é maximizar o lucro. Nem consumidores, nem trabalhadores têm poder. Quem tem poder é quem tem o capital.
Na economia solidária não tem isso.
Os donos dos empreendimentos são os trabalhadores ou os consumidores. Isso funciona, por exemplo, na forma de cooperativas, que podem ser:
- de produção, que são também chamadas de cooperativas de trabalhadores - em que não existe patrão, os próprios cooperados administram o empreendimento de forma coletiva, dividem o capital entre eles, por igual, e nas decisões que precisam ser tomadas, cada um tem um voto - ou de consumidores
- de consumidroes - em que pessoas que se juntam para atividades de proveito total deles. É o caso das escolas cooperativas - em que os pais dos alunos são sócios e mantém a escola - as cooperativas de habitação - em que as pessoas se associam para ter casa própria, algumas vezes trabalhando e produzindo a casa em regime de mutirão, outras vezes, só colocando dinheiro, para que se possa construir prédios e apartamentos; cooperativas na área de saúde - onde pessoas se juntam para fazer um plano de saúde e quem manda é quem usufrui do serviço.
Outro exemplo de economia solidária são os Clubes de Troca.
Em locais onde há poucos empregadores ou pouca fonte de renda cria-se um "novo mercado" baseado na troca de bens e serviços - chega-se mesmo a criar uma "nova moeda socia" que circula nesse novo mercado. Além dos benefícios óbvios - a possibilidade de adquirir o que não se precisa - o Clube gera integração e mobilização social.
Existem ainda os Bancos Solidários.
Os bancos comunitários são uma espécie de clube de troca mais amplo. Eles podem até receber depósitos. Se o empréstimo é em real, eles cobram juros. Comparando com o Brasil, que tem taxas inacreditavelmente altas, eles cobram pouco, cerca de 2% ao mês ou até menos. Isso porque os reais que eles têm são do Banco Popular do Brasil, que cobra algum juro. Mas se o empréstimo é na moeda social, não há juros.
Os primeiros foram o Banco Palmas, no Conjunto Palmares (uma comunidade carente de Fortaleza) e o BEM, no Morro de São Benedito (Vitória).
O objetivo é fazer com que o dinheiro da comunidade seja gasto na própria comunidade e com seus membros.
Mais informações sobre Economia Solidária aqui.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
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2 comentários:
Ótimo post hell!!!
Só tenho uma crítica a fazer em relação às premissas do raciocínio geral.
Nela, o autor tenta distinguir radicalmente o sistema proposto em relação ao vigente ao citar algumas características deste último, que, na minha opinão, considero meio irreais.
Veja só:
''Na economia capitalista, a empresa está inteiramente a serviço dos interesses do dono, que é maximizar o lucro. Nem consumidores, nem trabalhadores têm poder. Quem tem poder é quem tem o capital.''
O fato é que poucos, pra não dizer nenhum, empresários hoje em dia visualizam apenas o lucro, entendido aqui como uma perseguição frenética pela máxima eficiência econômica. Qualquer um que pratique essa política hoje em dia está fadado ao fracasso completo, uma vez que existem muitos outros elementos de longo prazo que derivam tanto da sofisticação dos consumidores, como da própria presença do Estado.
Assim, do mesmo jeito que um País sacrifica riqueza e bem-estar em prol de segurança e estabilidade, seja através de investimentos militares (para o bem ou para o mal), ou sanando possíveis tensões através de investimentos financeiros, um empresário deve levar em conta mecanismos bem semelhantes. Um deles é fácil de identificar, que é a subordinação legal (direitos trabalhistas, créditos de carbono, leis ambientais, etc). Outro, bem mais difuso, é a psicologia tanto dos trabalhadores como dos consumidores.
Ou seja, com esta última colocação, estou sugerindo que a ''relação de poderes'' entre os empresários e o resto da sociedade não é vertical como pressupõe o autor, mas horizontal. Não é a toa que se investe tanto em propaganda e em políticas de bem-estar dos trabalhadores, que são medidas que claramente reduzem o lucro em prol da própria estabilidade e eficiência da empresa. Em outras palavras, os consumidores e trabalhadores, me parece, têm muito poder, especialmente em potencial, dentro do sistema vigente.
Quando digo em potencial, me refiro à latência que tal poder assume em cada tipo de sociedade. Ou seja, em alguns locais a mentalidade mais exigente potencializa ainda mais a influência social sobre as diretrizes das empresas, que por sua vez sabem muito bem disso, e estão muito bem dispostas a entregar boa parte do seu lucro para sobreviver à ''voracidade'' dos consumidores e dos trabalhadores.
Finalizando, concordo que o Brasil entá entre aqueles que a relação parece mais vertical que horizontal, principalmente por falta de competência para aplicar leis em defesa da população (leis de regulamentação por exemplo, que deveriam ser bem representadas pela ANATEL, ANVISA etc...) mas também por falta de critério dos próprios consumidores, que, perseguindo seus interesses imediatos, não reagem às políticas trabalhistas e ambientais das empresas (mal reagem as políticas nacionais também, como já sabemos).
Concordo totalmente em abrir mais espaço para sistemas alternativos, mas é necessário trazer a responsabilidade para a sociedade em geral, e incluir menos argumentos que simplesmente acusam os empresários. Estes se sentirão pressionados a se integrar à sociedade somente se aquela também corresponder à altura, sendo mais seletiva e exigente, tanto na esfera privada, como na esfera pública, coisa que definitvamente não vemos bem no Brasil, mas é praticamente banal em alguns ''Welfare States'' (Estados de Bem-estar) europeus.
Aguardo algum tipo de resposta!
Saudações, Rup.
Li o seu comentário - que, como sempre, traz com bons argumentos e coerência. Paul Singer é um socialista (o que antigamente se chamava de "de esquerda") e suas teorias devem ser entendidas por esse prisma. Por isso a visão de classes tão exacerbada e em constante confronto. Quase posso apostar que se o texto fosse de outro renomado economista - mas de orientação diferente - Delfin Neto, por exemplo, as colocações e proposições seriam diferentes.
Dito isso, vamos ao que interessa:
como todo bom Brabero acho que, na verdade, você quis ser o "advogado do diabo", adicionando fatores que não foram abordados no texto. Ponto pra você, já que pra isso é preciso ler, entender, investigar e concatenar as idéias.
Concordo quando você diz que não se pode simplesmente acusar os "donos do capital" (embora eles já tenham feito muito por merecer tais acusações..). Acho que esse tipo de comportamento é infantil e maniqueísta.
Concordo, também, - em teoria -, com seus argumentos sobre a "relação horizontal" estar mais próxima de poder ser exercida em nossos dias. Mesmo havendo uma notória relação de cumplicidade entre Governos e Capital só o fato de existirem "Agências Reguladoras" disso ou daquilo já é um grande avanço (só nos falta que elas funcionem..).
Minhas únicas discordâncias são mais filosóficas do que ideológicas/teóricas: por motivos pessoais (deve ser a idade..) tenho perdido, dia-após-dia, a esperança no Homem. Não creio que nós, um dia, façamos valer efetivamente nossa vontade - e, se um dia o fizermos, acho que ela virá distorcida e desumanizada (como quando, ao exercemos nossos direitos, costumamos dizer "eu tô pagando, eu tenho esse direito!" ao invés de "eu sou cidadão igual a todos e tenho esse direito!").
Enfim, (des)crenças pessoais.
Valeu pela paciência em ler o artigo e por comentar.
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