domingo, 22 de março de 2009

Reflexões sobre o Fórum Mundial da Água 2009


Saudações.
O "5º Fórum Mundial da Água", de Istambul, Turquia, encerra-se hoje,
22 de março
- dia Mundial da Água -
e, ao contrário do que eu imaginava,
mostrou-se uma lamentável disputa política e econômica
digna de fazer corar os engravatados do Fórum Econômico Mundial, de Davòs, Suíça.

Talvez fosse culpa da minha inexperiência - já que é a primeira vez que acompanhei o evento - mas não sabia o quanto o Conselho Mundial da Água (CMA),
responsável pela organização do evento,
está envolvido com corporações multinacionais e com grupos de interesse privado
com o objetivo de mercantilizar e comercializar os recursos hídricos
e maximizar os potenciais lucros.

Por isso senti-me obrigado a voltar aqui e compartilhar minhas impressões sobre o "FMA 2009".
Entre os diversos documentos propostos saltaram-me aos olhos um
que incluia a transferência de águas entre bacias hidrográficas como medida possível para solucionar situações de deficiência hídrica.
Não precisa ser muito esperto para saber o que isso implicaria e possibilitaria caso fosse aceito.
Não foi.

As últimas - e mais importantes discussões - em que diversos países se envolveram evidenciaram a sinistra queda-de-braço recheada de armadilhas jurídicas dos tempos modernos:

água como um "direito humano"
versus
água como "uma necessidade básica".

Segundo juristas, o problema é que o conceito de "direito básico" não tem implicações jurídicas, ao contrário da noção de "direito humano", que é garantida pela maioria das constituições nacionais.
Bem no meio da discussão estava a França,
país onde estão radicadas as maiores companhias privadas do setor hídrico e que pendeu
- vergonhosamente -
em defesa destas.

Pra piorar, no dia 15, uma manifestação contrária ao Fórum foi reprimida com violência com direito a gás lacrimogêneo, cassetadas e prisões. Ao longo da semana, as entidades contrárias ao Fórum emitiram discursos, realizaram oficinas e painéis com o objetivo de chamar a atenção para a parcialidade dos componentes do fórum.
A mídia não citou sequer uma.

É uma pena - mas foi lamentável.

Como uma tentativa de me retratar, deixo aqui uma entrevista com o secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto da Bahia (Sindae), Pedro Romildo Pereira dos Santos, em que ele fala sobre as conseqüências do desperdício da água.

Romildo tem 43, é formado em História, pós-graduado em Gestão Pública, professor da rede pública municipal em Salvador, secretário de Meio Ambiente da FNU/CUT e membro do Conselho das Cidades.
Leiam pois vale a pena.

Até breve.

Um comentário:

Hellraiser disse...

Saudações, Paulão.
O que eu testemunhei nesse FMA2009 - mesmo à distância - me deixou muito decepcionado e preocupado. Os governos estão mais preocupados com detalhes jurídicos e "brechas" legais que podem ser "distorcidas" por hábeis advogados e doutores da lei, do que com o futuro da humanidade e sua necessidade futura de água. Enquanto os representantes nacionais brigam e divergem sobre "termos" e "intenções" as empresas que lucram com a mercantilização da água já estão prontas para se aproveitar desse iminente desastre humano. Uma pena.